quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Tatuagem - Leandro Luz

Vida é acúmulo de perder-se de si por corredores com fotografias desfocadas
corredores que correm uns dentro dos outros em espirais de espirais
Respiro o ar que me deram e só por isso sei que vivo
cá dentro de minhas poeiras 

Faltam janelas
faltam portas e janelas

não ouso olhar pra cima - não ouso
Não ouço meus passos no chão
e por isso também para o chão não ouso olhar
Assim sei que me esvazio dos passos
que vou largando pelo caminho onde passo
e com eles vou largando também nome, endereço,
documento, senha, tudo que sou eu e é tão falso...

Vida é acúmulo do que foi vivido
e do que ficou pra ser vivido e não foi
dividido pelos instantes que se perderam
nas areias infiéis
/ promíscuas areias /
sempre a se entregar
à silhueta do tempo
à têmpora malsã do tempo
encrustado na parte de mim
que não alcanço ver nem tocar
nem sentir
nem arrancar...

Ah, se arrancar pudesse!
se arrancar pudesse!
já não mais pele nenhuma eu teria
nem o tempo em mim
tatuado na pele de mim eu teria...




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