sábado, 4 de outubro de 2014

407. Em nome de que?

Primeiro chegaram fazendo barulho
e mancharam nossa vista e audição
trouxeram de longe, novidades:
- medo, vergonha e humilhação

Logo roubaram nossas almas
guardando-as em caixas sem fundo
nos fazendo vazios....
e rompendo nossa conexão com outro mundo

Então sorrateiramente nos tomaram a terra
a terra que nos sustentava
o que restou nos oprime agora
e resiste banhada de sangue e cobiça infiltrada

Depois disso, usurparam nossos cantos sagrados
a melodia e o ritmo do meu povo
pra adornar outros rituais

mais vazios, mais fúteis, mais profanos

Agora isso...
Agora isso...

Sem remorso nem tristeza,
entoaram nossa música em transe
evocaram sem saudades nossos mortos
Heresia!  Desonra! Crime!Tristeza!

Ignoraram nossas crenças
trouxeram doenças  e mentiras
humilharam nossos saberes e curas
Sujaram nossa tribo
de um lixo mundano e fedorento
imutável, eterno e inexorável

em nome de que?
em nome de quem?

As marcas do nosso corpo
- seja pintura ou cicatriz,
iniciação de homem e de guerreiro -
foram copiadas e impressas com giz
sobre peles de outra cor

onde a dor não purga os pecados
onde as cicatrizes não retratam
a força de um povo honrado

/arte roubada e costurada
em pele com nossos escalpos \

em nome de quem?
em nome de que?

que tipo de deuses vocês evocam?
a que forças da natureza vocês suplicam?
por que destroem a ponte sagrada
que nos levava aos céus
nos isolando dos deuses
e outros protetores do céu e da terra
ignorância e desrespeito nos põem em perigo

Flecharam de longe nossa inocência

Macularam nossas tradições
Colocaram em risco nossa existência
e nosso descanso eterno e paixões

em nome de que?
em nome de quem?

Não queremos seus espelhos, língua, dinheiro e fés.

Em nome do seu pai
e do seu filho
e do seu espírito insano:
devolvam nossa altivez
não estraçalhem ainda mais o que nos resta de alegria e dignidade

Vão em paz
e, por favor, antes de sair...
levem seus rifles
lavem nossas almas usadas
(elas ainda não estão perdidas)
deixem aqui os restos de coragem
e outros restos que nos restam
talvez ainda possamos reconstruir
nossa infância
e começar outra vez,,,

MDansa

406. As Barbatanas da baleia - A embolada (S.Dansa)

Diz uns maluco
Que nós, bactéria dos intestino
Vivemo dentro de um menino que é também um ser vivente
Fico pensando: eita povo delirante!
Fica pondo essas idéias na cabeça dessa gente!
O certo memo é aproveitá desse mundo
Procurar raso e profundo tudo que há de se comê
As consequência nós deixa pros nossos fio
Que esses trem fora do trilho nem o tempo pode dizer
Se dá de um tempo aonde a comida é farta
Nós comi que nem lagarta, come merda e come pus
Entope os tubo, engorda que nem bexiga
E nós uns porco de uma figa ainda pede mais a jesus
Nós devoremo as barbatana da baleia
Nós devoremo as noites claras do sertão
Nós devoremo o mito e a sereia
Comemo as veia, artéria e coração
Nós devoremos os cego e os videntes
As almas santas, a vassoura e o caldeirão
A alvorada, os tambor e os terreiro
Devoremo o mundo inteiro da palma de tua mão
Nós devoremos essas desgraça de preto
os branco sujo, os eunucos e os gays
Nós devoremo a piroca mais gigante
e fingindo sermos amantes
nós comemo o cu dos reis
Nós devoremo a mente de jesus cristo
E ainda assim nós fomo visto jantando no altar do eterno

Nós devoremo os sete chifres do capeta
E tamo se lambuzando nas labareda dos inferno
Nós comi e caga e no meio dessa lambança
nós diz, é com segurança, que nós somo tudo ateus
Por conta disso, num dia de displicença
Nós pedimo até licença e comemo os óio de deus
Nós rói as viga, nós devora as estrutura
Seja mole ou seja dura, seja anjo ou seja o "cão"
Nós devoremo as ratazana e a lua cheia
comemo nossa senhora e fomo cagar no valão

SDansa
(outra gota no mar de dansas)

405. Adolescência (S.Dansa)

Afinam suas trompas, violinos
Enrolando em cachos, os seus tão finos
Sonhos, assombros e quimeras.

...e enquanto batem tambores, os meninos...
Os cabelos ela alinha, ainda em terra
pra lançar-se altiva aos mares, em guerra,
em busca dos prazeres tão divinos.

Arrisca-se às voadoras lanças
Carrega ferida a sua criança...
às vezes morta, sonhadora...

E já no mar ao mar se entrega
Deixando longe a velha praia segura
Mergulha, afoga-se e bem profundo navega
pra respirar despida, inteira, viva, impura

Bem em frente à dupla face da megera
Calor, frio.... Primavera
a dor e a cura, um novo dia...

E, em fúria, flor e fantasia
O deixar de ser deixa de haver
No prazer que há de quem lhe quer
e morto enfim o sonho de voltar a ser
nesce então de vez uma mulher.

S. Dansa (outra gota no mar de dansas)

sábado, 20 de setembro de 2014

404. Caminhadas



A vida segue
continua em frente
Estes passos
Cada vez mais frenéticos
Marcam na areia e no barro
As dúvidas que carrego
(Como cigana
Andarilha ou pássaro
Procurando pouso?)
(Um beduíno dono do mundo
Ou apenas alguém que se perdeu das próprias raízes?)

Deslocada em terras profanadas
Enquanto não encontro respostas, vou
Violando regras
Invadindo tendas
Mundos, igrejas,
Filosofias, certezas
Propriedades privadas
Domínio público

Encontro tribos e me
Aconchego
Apenas pra me sentir em casa
De vez em quando

MDansa

403. Brinks



Blogger
Blergh
Blurgh!
Block
Black
Brink
Plaft 

MDansa

402. Incertezas



Intuo como cigana
que o que tenho a dizer
É eco
Minha palavra
Minha língua
Minha mina
Parecem ressecadas
Não acredito mais em certezas
Duvido do que era confiável
Desconfio do que era razoável
Aposto em loucuras e voos rasantes
Os ninhos estão vazios agora
Olho quieta para uma solidão desconcertante
Que parece inutilidade
Que me faz duvidar de mim
Que me faz duvidar de tudo
Que talvez me mova pro abismo
E eu ainda descubra
Que posso voar
Ou não...
MDansa

401. Poesia é quase nada



A poesia me incomoda
É inconstante
É invasiva
Vem nas horas mais impróprias
E  martela na cabeça
suplicando pra sair
pela boca pelos dedos
pelo peito que explode
A poesia me cansa
Tenho por ela
uma mistura de enfado e desprezo
Tenho que estar louca pra achar
Que isso vale alguma coisa
Tão íntima
Tão inútil
quase ridícula

A poesia me arrasta
Pra lugares
Que não quero frequentar
Me ver como poeta
Quando poetas são tão estúpidos
Me faz entender que eu sou tão estúpida...

A poesia me expõe
Ao mesmo tempo que me envergonho
E me escondo
Preciso que você me leia
Me entenda
Me justifique
Me tranquilize

Afinal é só pra isso que escrevo
Pra que você continue achando que me ama
MDansa

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

400. falar de que?

dos suores quando escorrem

afogando certos amores

da minha pele que desafina
quando o inverno passa assim
quando o inferno passa por mim
tão quente e tão frio
quase meio tom

da carne quando queima febril
da fumaça, da bruma, do vapor que entorpece
da névoa da noite
da cama
das suas costas

Do que é só febre descontrolada
fumegando de células desacopladas
Falar do corpo descompassado
da pele ardendo ruborizada

não não é mais de vergonha
apenas me acostumei com o medo
apenas queimo
sem discernimento
sem razão
toda ilusão

do que me irradia
como reflexo de lua
oferta aos orixás

de histórias narradas
de sombras ensimesmadas
de sobras metálicas
de tardes melancólicas
de dobras metabólicas

que seguem a via errada
entropia desavisada
onde perco me perco
e não falo
não falo

Mdansa


399. Até o fim

Até o fim do dia me cubro
exalando vapores e paixões
Até o fim da noite me descubro
emanando frescor
que gela os poros
respiração fria lenta
calmante e durmo.

MDansa

398. Teias

Que meus cadernos se desfolhem
E minhas telas trinquem
E minhas portas tranquem

E meus cabelos trancem
E minhas pernas dancem
e minhas dores cansem

e minhas peles clamem
e meus laços atem
e minhas mortalhas matem

Que meus cachos encaixem
que meus braços alcancem
Que meus sapatos descansem

Que minhas tetas rachem
que meias teias bastem
que meus olhos tramem

Que meus punhos te amassem
que meus erros fracassem
que meus sentidos amem

MDansa

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Nikolas Behr

Põe Sia Nisso
agosto 79

quando minha veia poética
estorou ela virou pra mim
e disse " deixa sangrar "

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

397. Eus e deus



1. São teus
Os olhos sem mistério,
água limpa e profunda que me diz pra mergulhar
que me conta em segredo o que enxergou  tão longe:
- as coisas invisíveis se revelam devagar...
______________________________________________________

2. São meus
Os cacos que recolho do céu, camuflados nas estrelas
E o casaco pesado que visto
Pra nova vida névoa
que é quase morte
e por isso é fria
______________________________________________________

3. São breus
As noites em que chafurdo
em arrependimentos, questões mal resolvidas, negócios inacabados
Lama de mágoa líquida e amor sólido
_______________________________________________________

4. São ateus
Os que criam a própria eternidade
Os que não podem errar / pois não contam com a complacência divina\
Que não podem pecar  /pois não tem o perdão \
Não conhecem a serenidade e a quietude de quem tem fé
Por isso sofrem....
_______________________________________________________

5. São fariseus
Aqueles marcados /talvez\ pelo jugo cristão hipócrita e revanchista
Apontados como brutos, sórdidos, putos, lutos, guerras,
suicidas, terras sem útero, povo sem glória
/Quem é quem nesta guerra arrastada e violenta?
Só a paz tem razão!\
______________________________________________________

6. São orfeus
Aqueles que se perdem no mundo inferior
Em busca de amores mortos
Que subornam barqueiros /atravessadores de mundos\
Só é preciso acreditar em milagres, me dizem...
Mas não me deixam provar mitos e deusas
Por que não?
_______________________________________________________

7. São camafeus
Os que perfuram meu peito
Os que se prendem  à minha pele, os que não descolam de mim
/pedra fina cinzelada cravada como tatuagem\
Prêmios alexandrinos
Eros estampado como convite... Sedução...
E você não percebe meu tesão
______________________________________________________

8. São ateneus
O que nos salva da estupidez e da barbárie
Livros abertos, sabedorias, saberes, arte
Que nos alimentam, recriam e elevam
Que nos pinçam do mar sujo de humanidade torpe
ilhas perdidas numa imensidão oceânica
Flutuo pra parecer que sei
mas não entendo nada.
________________________________________________________

9. São amadeus 
Os filhos de celtas, anjos da música
Os filhos da puta, anjos da vida
wolfgangs inquietos vienenses libertos
Almas angustiadas infelizes
que lançam no mundo
a mensagem arrebatadora avassaladora
que muda tudo, violentamente
Poder da dor, contradição...
Divindade....
__________________________________________________________

10. São Zeus
tudo o que é início e o que é fim
tudo o que é pai e executor
rei e traidor
O sangue bandido herdado de Cronos
O herói banido sem capa,nem músculos,
nem juventude, nem ideologias patriotas
Apenas arquétipo
Apenas resumo
Apenas triunfo
E isto é apenas tudo.
___________________________________________________________

11. São eus
Os que enxergam o que não se vê
Os que não dobram joelhos nem pedem perdão
Os que já estão quase mortos
Os que  se lançam na escuridão
os embrutecidos, os drogados
os anti-heróis os sonhadores os apavorados
tudo que me excita ou me fraqueja
tudo que me cura ou me apedreja
Os que são pisoteados
Os enganados, os fodidos
Os humilhados, os renegados, os ressentidos
os atacados os estuprados os entendidos
os vilipendiados, os estripados e os bandidos
___________________________________________________________

12. São todos EUS:
As partes de mim que nascem todo dia
E tudo aquilo que morre dentro em você
porque meus eus também são seus
E os meus seus são deus!

MDansa