sexta-feira, 22 de agosto de 2014

400. falar de que?

dos suores quando escorrem

afogando certos amores

da minha pele que desafina
quando o inverno passa assim
quando o inferno passa por mim
tão quente e tão frio
quase meio tom

da carne quando queima febril
da fumaça, da bruma, do vapor que entorpece
da névoa da noite
da cama
das suas costas

Do que é só febre descontrolada
fumegando de células desacopladas
Falar do corpo descompassado
da pele ardendo ruborizada

não não é mais de vergonha
apenas me acostumei com o medo
apenas queimo
sem discernimento
sem razão
toda ilusão

do que me irradia
como reflexo de lua
oferta aos orixás

de histórias narradas
de sombras ensimesmadas
de sobras metálicas
de tardes melancólicas
de dobras metabólicas

que seguem a via errada
entropia desavisada
onde perco me perco
e não falo
não falo

Mdansa


399. Até o fim

Até o fim do dia me cubro
exalando vapores e paixões
Até o fim da noite me descubro
emanando frescor
que gela os poros
respiração fria lenta
calmante e durmo.

MDansa

398. Teias

Que meus cadernos se desfolhem
E minhas telas trinquem
E minhas portas tranquem

E meus cabelos trancem
E minhas pernas dancem
e minhas dores cansem

e minhas peles clamem
e meus laços atem
e minhas mortalhas matem

Que meus cachos encaixem
que meus braços alcancem
Que meus sapatos descansem

Que minhas tetas rachem
que meias teias bastem
que meus olhos tramem

Que meus punhos te amassem
que meus erros fracassem
que meus sentidos amem

MDansa

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Nikolas Behr

Põe Sia Nisso
agosto 79

quando minha veia poética
estorou ela virou pra mim
e disse " deixa sangrar "

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

397. Eus e deus



1. São teus
Os olhos sem mistério,
água limpa e profunda que me diz pra mergulhar
que me conta em segredo o que enxergou  tão longe:
- as coisas invisíveis se revelam devagar...
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2. São meus
Os cacos que recolho do céu, camuflados nas estrelas
E o casaco pesado que visto
Pra nova vida névoa
que é quase morte
e por isso é fria
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3. São breus
As noites em que chafurdo
em arrependimentos, questões mal resolvidas, negócios inacabados
Lama de mágoa líquida e amor sólido
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4. São ateus
Os que criam a própria eternidade
Os que não podem errar / pois não contam com a complacência divina\
Que não podem pecar  /pois não tem o perdão \
Não conhecem a serenidade e a quietude de quem tem fé
Por isso sofrem....
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5. São fariseus
Aqueles marcados /talvez\ pelo jugo cristão hipócrita e revanchista
Apontados como brutos, sórdidos, putos, lutos, guerras,
suicidas, terras sem útero, povo sem glória
/Quem é quem nesta guerra arrastada e violenta?
Só a paz tem razão!\
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6. São orfeus
Aqueles que se perdem no mundo inferior
Em busca de amores mortos
Que subornam barqueiros /atravessadores de mundos\
Só é preciso acreditar em milagres, me dizem...
Mas não me deixam provar mitos e deusas
Por que não?
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7. São camafeus
Os que perfuram meu peito
Os que se prendem  à minha pele, os que não descolam de mim
/pedra fina cinzelada cravada como tatuagem\
Prêmios alexandrinos
Eros estampado como convite... Sedução...
E você não percebe meu tesão
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8. São ateneus
O que nos salva da estupidez e da barbárie
Livros abertos, sabedorias, saberes, arte
Que nos alimentam, recriam e elevam
Que nos pinçam do mar sujo de humanidade torpe
ilhas perdidas numa imensidão oceânica
Flutuo pra parecer que sei
mas não entendo nada.
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9. São amadeus 
Os filhos de celtas, anjos da música
Os filhos da puta, anjos da vida
wolfgangs inquietos vienenses libertos
Almas angustiadas infelizes
que lançam no mundo
a mensagem arrebatadora avassaladora
que muda tudo, violentamente
Poder da dor, contradição...
Divindade....
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10. São Zeus
tudo o que é início e o que é fim
tudo o que é pai e executor
rei e traidor
O sangue bandido herdado de Cronos
O herói banido sem capa,nem músculos,
nem juventude, nem ideologias patriotas
Apenas arquétipo
Apenas resumo
Apenas triunfo
E isto é apenas tudo.
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11. São eus
Os que enxergam o que não se vê
Os que não dobram joelhos nem pedem perdão
Os que já estão quase mortos
Os que  se lançam na escuridão
os embrutecidos, os drogados
os anti-heróis os sonhadores os apavorados
tudo que me excita ou me fraqueja
tudo que me cura ou me apedreja
Os que são pisoteados
Os enganados, os fodidos
Os humilhados, os renegados, os ressentidos
os atacados os estuprados os entendidos
os vilipendiados, os estripados e os bandidos
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12. São todos EUS:
As partes de mim que nascem todo dia
E tudo aquilo que morre dentro em você
porque meus eus também são seus
E os meus seus são deus!

MDansa