domingo, 29 de maio de 2016

463. tem dia...



Tem dia que dá uma saudade vazia...

MDansa

imagem: acervo pessoal

462. Entrementes...


Vivo entre extremos, entre vagões
O trem passa à velocidade da luz
Meus olhos estranham, ardem, se fecham

Vivo tentando entender

O mundo exclama, reclama
É onda, é revés, é chama

Delira

Entrementes enquanto respiro
a dor retorna, o mal devora
Entrementes, enquanto respiro...

Vivo entre gentes, entre vãos
me esqueiro
entre balas de canhão
entre luas e multidão

Vivo estridente

dentes frouxos dissi-dentes
mentes vagas vão fugir
infeliz-mente
meu esconderijo é bem ali

Vivo tentando me esconder
mas não dá mais pra não ser.

me exponho pra você

MDansa







sábado, 28 de maio de 2016

461. Destroços
















O dia nasceu e vou tentar ser razoável
/só desta vez\
Meu peito pesa de restos e rezas
minhas ...do mundo
Do mundo que são também minhas
E minhas que são outras
/quase não consigo distinguir\

Vou recolhendo o que foi a mim destinado

destino lado
deste tino dado
deste lado
deste nada
Desatinada

O dia já nasceu faz tempo
tentei ser razoável desde ontem e comigo mesma
e só agora
tudo deu errado
de Minas e do mundo

Deste mundo que é também  Minas
E do mundo que são também outros
dos quais eu também venho e padeço

E cada dia colho mais um pouco
do que me foi confiado

Con-fins e fado
Con-firmado
con-templado
con-ferido
con-denado

des/denhado
des/telhado
des/te fado
des/te fosso
des/troço
MDansa




imagem: Atafona, RJ - https://www.youtube.com/watch?v=cq_Q1Rq3CUo&feature=fvw

460. Um olhar no meu coração












Meu coração é nuvem tardia
de inesperada taquicardia
que com frieza e esquecimento
Reinventa o sentimento
ressente cada momento
e para então de bater

Meu coração rebelde revela
Empolgado se acautela
Tem medo e se atropela

renova seu  juramento
desiste a todo tormento
e para então de morrer


Meu coração insistente
Indomável e indolente

tão difícil de prever
Mas se me olhar de soslaio
A cada olhar eu desmaio
A cada olhar... eu me traio
Porque te olhar é morrer


MDansa

459. Travas quebradas

Quem no escuro da noite
Se reconhece?
No momento em que ensurdecem uns sentidos
E afloram outros mais críticos
Sou outro

Quem na calada da noite
Se percebe?
No momento em que sentidos despertam
Música, estrelas, acordes
Outro me domina

Quem na hora mais imprópria
Se esquece?
No momento em que os monstros povoam
Ruas, estrelas, flores e vultos
Outro me aparece

Esta é a hora
Quando silencio a vida mundana
-  aquela vida tão óbvia -
E deixo aflorar a loucura
Porventura
Desventura
Incensura
Clausura
Criatura
Que habita
aqui em silêncio
Esperando a hora
Certa
Pra destravar
O mundo que tento ocultar

Quem na madrugada
Se encontra?
No momento em que finalmente
É a hora e o lugar de confessar

Não há fechaduras
As chaves foram perdidas
Cadeados arrombados
Tudo se escancara e se mostra
No momento em que os segredos se revelam
E as máscaras caem

É tão libertador
É tão bom ser verdade
É tão intenso ser completo
É tão correto ser todo o bem e todo o mal
Liberto!

O mundo me dá e me toma
O mundo me destrava e me doma
E eu sigo oscilando entre prisões e devaneios


MDansa

458. Todo rumo

Cada rumo
Runa
Notas
Toda imobilidade, cotas
Olhos perdidos
Elos rompidos
Começam em marchas, arrancadas
trovas

Vocês vêm ou vão?
Vocês ficam ou decolam comigo?

Toda liberdade é loucura
Um pouco mais um pouco menos
Mas sempre e verdade
E cada verdade vertente
Enxergo tudo sob o olhar da lente

Cada mundo
Mudo
Tudo
Todo instante
Toda instabilidade
Idade
morte
Olhos vidrados
Elos perdidos
São forças, engrenagens, gigantes

 Vocês concordam e apoiam?
Vocês surtam ou não... comigo?

Toda impunidade é aventura
Sem mais nem menos
sempre liberdade
E toda liberdade é presente
Enxergo tudo sob um olhar diferente

Mas meu passo é pago
É caro e
os juros são exorbitantes
sigo devendo obstante....



MDansa

457. A menina nua

E aquela menina nua me deu a mão
Quis saber o que eu achava
Escutou todas as histórias
As que eu contei
E as que eu calei
Fez um castelo
Me chamou de rei
Se fez súdita e rainha
E me entregou coroa e cetro

Aquela menina nua me deu a mão
Comentou a maciez da minha
Escutou meus desejos ardentes e grosseiros
Abriu suas portas:
As que bati e as que fechei.
Fez uma igreja
Me chamou de deus
Se fez adoradora e deusa
E me entregou o céu e o inferno

Aquela menina que conheci nua
Abriu todos os caminhos
Rotas que fui negando e bloqueando
Como ruas interrompidas
Onde não desfilam vidas

Aquela menina pediu e neguei
Aquela menina fugiu e eu deixei

Aquela menina sorriu e eu chorei

Nunca mais serei de novo eu
Desde que aquela menina nua me esqueceu


MDansa

domingo, 1 de maio de 2016

456. Suas

Nossas noites são curtas
Suas ações são astutas
Suas mãos são afoitas
nossas vozes são surdas
nossas águas são turvas
Sua alma me açoita

Suas tristezas são graves
Suas ausências são chaves
Suas dores charadas
Suas tardes soturnas
Suas viagens noturnas
E as meninas caladas

Suas preces são parcas
Suas borboletas, monarcas
Suas faces estão rubras
Suas palavras fecundas
Suas manchas profundas
Todas as cores são marcas

Seus sorrisos são charadas
Seus gritos são grutas
Suas grutas violadas
Seus pecados são lentes
Do seu mundo indecente
e sua prece profanada

Uma ideologia exilada
Um futuro delirante
Uma  passada atrasada
um coração  vacilante
um destino itinerante
uma liberdade usurpada

Se meus sentidos forem ágeis
Minhas certezas forem frágeis
E o meu amor eu declare
Há de chegar o momento
Que sem causar sofrimento
nosso segredo escancare

MDansa

imagem: http://www.bioenciclopedia.com/mariposa-monarca/

455.Entre e fique à vontade

Entre e fique à vontade
Nesta casa que é sua
Abra as janelas
Revire os armários
Descubra a verdade
Amassada na gaveta de baixo

Introduza loucura no papel de seda

Entre, se cubra,
Proteja-se do frio
E então, ligue os ventos e os redemoinhos
Faça circular ares estagnados
E ideias obtusas
Escondidas atrás da porta

Introduza loucura nessa casa torta

Entre e encubra
a profunda tristeza
E os dramas
Com flores que brotam cedo na varanda
Aproveite para regá-las
E sorrir para elas

Introduza loucura e febre amarela

Entre e disfarce o desejo
se proteja do meu beijo
E siga sem pensar
Só mantenha as luzes à meia
estenda os fios de seda
Que tecemos tempo no ar.

E encontre loucura no olhar


MDansa