domingo, 25 de agosto de 2013

243. Brincando com a morte



Tenho brincado de morrer
Pensado na morte
Encarado a morte
Sentido a morte perto
Por que é tão difícil?
Queria viver mil anos
Experimentar tudo que a vida permitisse
Existe tanto ainda por fazer
Tanto pra provar
Tanto pra surpreender
Tanto pra se arrepender
Tanto pra morrer....

Tenho brincado de morrer
Meu peito arde esperando a hora
Eu sei que ela se aproxima
Do fogo que me queima não tenho medo
Mas não é coragem
É serenidade, alívio
Desistência e curiosidade

Sei que ela está vindo
Estamos nos tornando amigas tão íntimas
Que compartilhamos segredos
Tenho procurado entende-la
E ela a mim
De olhos compridos
Querendo me beijar, me tomar
Compasso de espera pelo sexo ardente e final

Ganho presentes de sedução:
Só mais um minuto
Só mais um dia
Só mais um ano

Espere um pouco mais
Já estou indo
Só quero acertar umas contas
rever alguns lugares sagrados, alguns amigos
Conhecer outros poucos
Quero experimentar mistérios e hemisférios
Quero falar que te amo mais uma vez
No seu ouvido
E ver seus olhos se fecharem de amor
Quero sentir seu cheiro amadeirado profundamente
Pra não esquecer pela eternidade
Quero olhar ainda dentro dos seus olhos
Mais uma vez e procurar o brilho perdido
Só pela última vez...
Quero sentir a lua brihar na sua pele
Refletindo nas águas do mar noturno
como um dia em chapéu de sol
(Contradição amarga)
Pra te sentir sem medo
Pronta pra morrer se for preciso
Só mais uma vez

Quero ouvir um canto gregoriano
Mais uma vez
E aquelas novas canções que me mobilizam
Me mantem apaixonada e pulsante
Dia após dias como se fossem
Trilhas sonoras que aprendo
Toquem o que ainda não ouvi
No meu funeral
quero continuar experimentando e aprendendo

Será que serei eu mesma depois que isso acabar?
Será que meu tempo imutável se expandirá
Com a inconsciência do ser?
Será que vou me perder ou me encontrar?
Será que serei livre finalmente
Será?

Tenho brincado de advinhar
De querer saber
De não me importar com prováveis perdas
Se for pra achar
Se for pra descobrir o que não sei
Se for pra deixar de querer saber
e ter paz

No dia que eu me for
Me sinta ao chorar sem pena
Mas não pela minha partida
Chore se não puder me encontrar em vida
Porque tive tanto a oferecer
Se chorar que seja por minhas partes perdidas
desenganadas
Que você não conheceu, ou negou, ou escarneceu
Ou simplesmente ignorou por ter medo
Meu coração ainda é puro porque posso amar
e não sou capaz de fazer mal nenhum, nem odiar
Porque se você me chamar eu vou
Sempre fui e continuarei indo sem pensar...apesar da dor
Chore pelo que não tive coragem ou chance de mostrar
pelo que você não me permitiu expor
pelo que você não entendeu

Sou pura, puramente eu
Mas não...não sou santa
Minha carne foi usada, esbanjada
Sou suja sou mundana
Não soube amar
Não soube me doar
Não soube perdoar
Magoei corações queridos
Fui egoísta
Mas construí um castelo de pedras da lua
Que olho estarrecida
Feito de gentileza e generosidade
Doçura (e arrogância)
Humildade (e violência)
(E impaciência...)
Castelo de humanidades

Sempre pareci forte 
(só você sabe que não sou)
Sempre tentei fazer diferença
Sempre tentei ver diferente,
Aceitar, permitir, ver por trás do óbvio
acreditar, sentir
- Sempre te olhei tão diferente -
Dei a mão
Mostrei outro lado
ofereci solidariedade e compaixão
e amor descrito em poesias e mensagens que você apagou
Se isso foi ou não suficiente
Suas lágrimas e sua saudade vão me dizer
E minha vida terá ou não sido em vão
é só do que eu preciso saber


MDansa

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