domingo, 14 de fevereiro de 2016

448.borb

Na palma da mão ela agoniza
era tão pouca esperança
era tão pouca a vida

Na palma da mão
ao sol que suas asas resseca
as gotas evaporam
as asas se soltam

Na palma da mão prisioneira
tão longe do chão tonteira
a borboleta se demora
quase morta
agora quase viva

suas cores mais pálidas
suas asas feridas

um vento e um medo
se prende ao meu dedo

até que está pronta
e cambaleando voa
ainda tonta

MDansa


447. me perdi

Me perdi em tantos versos
páginas rabiscadas
em cadernos aleatórios
Não tenho ideia do que já passei a limpo
e do que tenho que jogar fora

Me perdi nas emoções
que sempre retornam
nas esperanças
que sempre me afligem
Me perdi em recaídas
alcoólicas e ressacas morais

Não há uma única linha
que eu possa seguir
E eu só quero seguir em frente
sem olhar pra trás

Me perdi em querer ir em frente
e me ver novamente nos seus olhos

Me perdi em não querer
e me deixar seduzir

Me perdi, me perdi

MDansa

sábado, 13 de fevereiro de 2016

446. chances

Milhões de chances de mudar o mundo
dentro e fora da crosta
que recobre milhões de almas.

Milhões de chances de fazer diferente
de encarar de frente
novos e cruciais desafios
e salvar o planeta

Em nome dos pais
e dos filhos
brandamos nossas bandeiras
erguemos nossas armas
alteramos nossas regras

Em nome de Deus
violamos solos sagrados
arames farpados
liberdades conquistadas

Em nome da paz
enterramos punhais
apedrejamos e violentamos
anjos indefesos
e demônios necessários

Todos os nomes pelos quais lutamos
nos desconhecem
nos aborrecem
debocham

Cada qual embuído
de dúvidas que pousam de certezas
E de certezas que no fundo
são só dúvidas.

MDansa


445. sensação

A sensação de construir
casas sem sustentação
persiste nesta ousadia
nesta heresia quase.

MDansa

444.Quem sou eu pra ser poeta?

Quem sou eu pra ser poeta?
as palavras me doem
raramente escorregam
são demoradas, pesadas
Quem sou eu pra me apresentar como poeta?

Quando meu dedo em riste
que aprendeu a apontar
se vira pra mim
toca repetidamente e se ri.

Quem sou eu pra me julgar
ou me intitular profeta
Quem sou eu pra prever o fim de tudo?

Eu que nunca tive soluções
nem rimas
nem discursos
nem conselhos
nem sonhos nem sinais
Sou ré, todo dia
Sou meu juiz e meu executor

Tudo estava bem aqui debaixo do meu nariz
mas eu não quis olhar
Embriagada de vinho barato
entregue à solidão
me distancio cada vez mais

Quero apenas velar meu corpo
procurando as marcas
que ganhei e outras
que sempre estiveram lá

MDansa

443. Brotamentos

Pequenos pedaços de mim
pequenos nacos
desprendidos
pequenas partes que brotaram
pequenos brotos
que o utero expulsa
e o vento leva
e a vida molda
meus pedaços
meus brotos
tão longe crescem
cresceram
pegaram carona
em sopros de vento
e fugiram pra se fincarem
em outras terras
pra se molharem
em novas chuvas
pra crescerem
como novas mudas
novas invasões
Evoluções!

442. Arqueologia

Cavo
cavo
cavo
Revolvo cavo túneis
e túmulos

Revolvo
Terra pedra não
acho água
acho mágoa

Cavo
cava veia meia
cavo pulsa
terra alheia

Cavo cavo
tiro a teia
varro cavo varro
e movo
só areia.


MDansa


441. Fotografias


Instantâneo da imagem congelada
ela fala
discursa
modelo vivo ou morto
carregado de sentimento
história ou forma
expressões que carregam
criações
emoções
intenções
- nada é desprovido de sentido.

o significado recolho no olhar
ou sequestro ao retratar.

Fotografias são instantes
em forma de novelo
onde guardo caminhos contos de fadas
que desenrolo
quando me perco
pra reencontrar o fio da meada

Fotografias são errantes
desaparecem deixando sombra
saudades
amores desfeitos
tempo rejeitos beijos

Fotografias enquadram imagens cores cheiros sentimentos
tempo...
e volta tudo
Revivo
Reviro
Retiro
tesouros e monstros
de dentro de mim.

MDansa

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ecdise (Kátia Fernandes)

Polegada a polegada,
Contorcendo sofregamente
Cada músculo da alma,
Empurro para fora
Meu novo eu,
Que é novo,
Mas sou eu
Desenterrada de mim.
Uma nova pele recobre-me
E a velha couraça,
Desgrudada,
Para a qual agora olho,
Dá-me orgulho
Por tê-la usado
Sem nunca a ter maquiado
Enquanto a tive.
Sou-lhe grata
E peço-lhe desculpas
Se por ventura
Abusei-lhe a resiliência;
Se levei-a além
De seu tempo de existência.
Mudar, a nós,
Seres humanos,
Não é como para as borboletas,
Que atendem os chamados das flores!
A nós, seres cientes,
Tempos de crise
São os tempos de catarse!
A nós, seres pensantes,
Foi dado o dom de manipular o tempo
Sonegamos a sorte
E adiamos o processo!
Muitos de nós
Nunca se entregaram a uma ecdise
E vivem a clausura
Do que não mais são!
Pois parto-me aos retalhos
E emirjo dos trapos
Em busca de minhas novas asas
Nem que sejam de mariposas!
Vou responder ao clamor das flores,
Mesmo que estas já estejam murchas...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

440. Raio de sol

Tá vendo esta pedra?
E a água que escorre sobre ela, achando que
entende o fluxo?
Ela não conhece os poros, nem o éter
o caminho mais longo
por onde algumas, só algumas águas rolam.

Tá vendo esta folha que é leve?
levada pelo vento, nem percebe a água
nem todo o movimento de vida que
também empurra ou serve de barco e navega...

Tá vendo este raio de sol?
incide na água, na folha, no vento, na pedra
e ela... só ela brilha.

09/02/2016