domingo, 29 de janeiro de 2017

480. Lições de um vulcão

aprendi que estou só
daqui até o fim dos dias
em vulcões ou ladeiras
subo com a força das minhas próprias pernas

aprendi que estou só
em fogueiras e lagos
que se não trago alegria
por minhas próprias forças
não terei garantia

aprendi que no caminho só cabe um de cada vez
não em pares
aprendi que o coração é solo escorregadio e instável
que só os fortes sobrevivem
aprendi que não tenho nada além das minhas próprias metas
mas que não há certezas

aprendi que o que se dá
o que se sente
borbulha como o cerne vermelho de um vulcão
mas não toca ninguém
protegido por crateras de egos
dos meus e dos outros
cada qual ardendo por si mesmo

aprendi que o que arde é só meu
nada além de mim mesma queima
e o meu fogo não se alastra

aprendi que estou envelhecendo
e porque se envelhece....
a velhice te protege da arrogância do novo
a velhice abraça quem não é mais festejado
a velhice resigna e desiste
antes que fraqueje e não consiga e se envergonhe

É triste seu dedo em riste
seu desaconselho
Então desisto antes que você me impeça
Só assim a decisão é minha
20/01/2017

479. oração por meus amigos

que não caiam como moscas
meus amigos
que não desistam
nem sejam tirados bruscamente de mim

que não caiam em batalhas vencidas
que não caiam por balas perdidas
que não caiam ao meu lado meus amigos
devorados por dores males raios ou dúvidas

que meus amigos enfrentem todas as suas guerras
que meus amigos tenham e me deem esperança
que não escorreguem na pedra onde eu não caí
que sejam sempre muito mais fortes que eu
que meus amigos sobrevivam

16/01/2017

478. Tiempo

Talvez seja tarde
mas às 21:35h ainda é claro
portanto ainda é tempo
pois não anoiteceu

Se não anoiteceu é dia
e talvez de dia ainda reste um tempo
e um tempo é tudo que preciso
antes que não me reste nada.

15/01/2017
Pucon

477. Entre tarde e noite

Tudo o que estremece agora é a tarde
uma tarde quente e preguiçosa
que já é mais que uma tarde
mas ainda não é noite

Neste intervalo inominável
indecifrável fervo
e sinto respirar o céu e cochilar o sol
pássaros esperam a siesta e espreitam o tempo
que avança lento
pra que não seja esquecido..

15/01/2017
Pucon
porque anoitece quando já é noite

476. Conta-gotas

gotejo esvaindo-me em sangue
meu dia é longo e derradeiro
a força de um vulcão me acompanha
saio e escorro como lava e lágrima recorrentes

me esforço para estar no mundo
como um longo suspiro de quem ama
no trajeto me perco
e as vezes lembro de tudo
que suspende a respiração

logo esqueço e reinvento histórias
que não são aquelas que foram por mim sonhadas
mas aquelas que precisam ser por mim vividas

gotejo aos poucos minhas lagrimas
gotejo nada e tampouco minhas dúvidas
gotejo porque aos poucos escorro minhas mágoas e nego...
nego-te 7 vezes,
mas não basta
meu amor escorre por todas as paredes

15/01/2017
Pucon

475. El niño

O menino salta
é noite
acendem luzes em seus sapatos
crescem asas em seus tornozelos
explodem alguns foguetes em seus pés

Poderia voar alto mas nem teria graça
por isso só salta
num vai e vem de alegria

de todas as pessoas estagnadas na cena
só o menino acende e voa.

14/01/2017
Viña-Pucon

474. Hasta el fin del mundo

Camino hacia el fin del mundo
La luna espera todavia alli
Somos muchos y nadie
Somos tantos e nenhum
Somos tan pocos y lo mismo
Somos tan solos cuanto desgraciados
pero caminamos juntos
hasta el fin do mundo
buscando la luna

14/01/2017
Viña-Pucon

473. Luz e lava

Sol sólo uno
un muro que construye
límites
ilumina
luz infinita
luz que vive como fogo
e você imutável
imóvel nas sombras
enquanto tudo por dentro se movimenta
tentando se reorganizar
dança por dentro
face de pedra por fora

represa vulcão dorminhoco
represa tudo de novo
até não aguentar

15/01/2017
Pucón

472. as casas de lá

As casas são modestas
As casas se alimentam de madeira e zinco
As casas cultivam flores em seus muros de pedra
As casas guardam praças e segredos
As casas ocupam sonhos e melodias
As casas sonham mosaicos de pedra e espelhos
As casas devoram poesia
As casas são livres.

13/01/2017
Valpo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

471. Rio de novo em janeiro

O Rio (de) janeiro é vazio
parece esperar o carnaval
em um compasso silencioso e morno
e desatento

Ou sou eu, de alguma maneira, triste?

Talvez seja só esta sexta-feira solitária
um fim de dia ...
e eu remando contra o por-de-sol no arpoador

06/jan/2017