sábado, 11 de abril de 2015

"Em minha enorme cidade - noite" (Marina Tsvetáieva)

Em minha enorme cidade - noite
Da casa dormente eu vou - adiante,
É filha, é mulher pensa - a gente,
Mas eu só lembro algo que é - noite.


O sol de julho me varre - a estrada
À porta, a música mal - se ouve,
Hoje até a aurora vai soprar - o vento
Por entre as finas paredes - do peito.

Há um negro álamo e no vitral - luz,
E som na torre e na mão - flor,
E este passo de ninguém - atrás,
E esta sombra, mas eu não - estou.

Fios de contas douradas - fogos,
Da folhinha noturna na boca - o gosto,
Amigos, libertem-se dos laços do dia
Lembrem-se de que me vêem - na fantasia.

Moscou, 17 de julho de 1916

422. morte por encantamento



Mergulho sem ar
Num universo mágico
Fascínio, sedução
Me perco em cores vibrantes
E seres surpreendentes
Alucino sinto
Escuto vibrações
A cada sentido desafiado
Avanço sem parar
Enfeitiçada até quase morta
Quase desfalecida
Procurando os últimos raios do dia
luzes do delírio
Descobertas e alegrias são armadilhas
Abro os olhos e
Me perco da vida
Morro... de prazer e encantamento

MDansa
11/04/2015

421. Vinho tinto



O vinho tinta a minha garganta ressecada e ressequida
E inflamada e atrevida

Tintura vital
Varrendo minha microbiota
curando a febre
Impregnada na voz tremula
na garganta rouca
Veneno que te mata e me mata
Pra curar a dor de nós 

MDansa

420. Manoel



Anseio por palavras não ditas
Que poderiam ter sido reescritas
Anseio por catar cacos de palavras
Que o vento espalhou e vc não colheu
Que  deveriam bailar nos meus olhos
Ou coração
suas palavras já foram ditas todas?
Ou ficou alguma em segredo, na garganta
No pensamento
Desditas e reditas
suspensas
nunca serão repetidas
re-sentidas
De novo e de novo e de novo
No inesgotável desejo
De colher mais insignificâncias divinas
transversação
Daquelas que aceleram o coração
Que esticam a boca num sorriso involuntário largo
Daquelas que são e trazem felicidade e levam de volta
Num vai e vem
De ouvido e sentimento
Uma agonia de ter completado a viagem
Qdo não queria chegar
As paisagens ainda eram muitas
Enough...
Era este o caminho e esta era a casa de repouso
De onde suas histórias habitam
Colorem paredes
Já há cor demais
Chegou a hora
De fechar a conta
De fazer balanços
E calar....
Seu encantamento agora é só voar!

MDansa
14/11/2014
A Manoel de Barros