quinta-feira, 17 de julho de 2014

396. Sanidade



cala-se o poema
escapa o silêncio
revolta...
rebeldia...
fúria
mudas

não há o que escrever
quando seus músculos trabalham à fadiga
mas seu coração se espreguiça, quase para
sem sentir
Enquanto seu cérebro projeta outros planos
sonhos que caminham tão próximos à loucura?

É que a poesia requer dia triste
Tarde sombria
Noite insone
inconstância
insanidade
instabilidade
Reagiste?
Resististe?

E agora?
sua boca tenta produzir palavras duras e exatas
Enxergas tudo com olhos vidrados
Insistes? 
Não reviras mais os olhos
Não desbravas mais imagens
Só segues
Retomando terras que lhe foram roubadas
Retratando paisagens que lhe foram negadas
Repatriando filhos que me foram arrancados

Jogaste pra um canto qualquer
dúvidas temores e desvios
aquilo tudo que só você conheceu
onde se perdeu
Nunca mais...

Agora
Não vagueias
Não margeias
Não tateias
Não passeias
Apenas crês
Que este é o caminho certo

certo como o olhar contido por antolhos,
burro!

Um dia voltarás em busca de vingança
até encontrar a fracassada batalha
Que te atraia
Que te traía
Que te caía
Como mortalha

MDansa

395. Ainda há tempo



Não, não perpetue a blasfêmia de
enfeitar de plásticos e excrementos
Estas matas
De tornar lamacentas estas águas
De amputar membros belezas e futuros.

Não, não pague por cirurgias deformantes
Sorrindo e acreditando
Que não ser você mesmo
Te faz melhor

Não compactue com explorações imobiliárias
(estagnárias, estraganárias*)
que nos deixam pecar

Paraísos indefesos são expostos
invadidos encardidos erodidos explodidos fodidos

Meus sensores sentem a falta do que
Ainda não desapareceu
Mas é beleza e prazer
em risco de extinção.

Receptores químicos
Olfatos
Paladares
Músicas
Transes
intuições 
Rituais
espirituais

Sentidos rendidos vendidos
Esvaziados embalsamados
Chorarão arrependidos
Quando nada mais existir
Pra se amar e sentir

Não, não espere mais
Adie o dia
Em que só seu egoísmo sobreviverá
Só sua ambição triunfará
Só suas soluções provisórias ilusórias estúpidas
Prevalecerão

Por favor, compreenda
que a única saída
Pra prevenir esta triste morte
- o colapso da existência -
É festejar celebrar preservar
Proteger a vida

MDansa


394. Escolha



Para curar tristezas
E segregar o que é real
do que é apenas desespero
É preciso acreditar
desfocar a visão
abrir o coração e enxergar pureza
No precioso mistério
Que te faz viver

É preciso
Se deixar contemplar
com olhares deslumbrados
os céus

É necessário se permitir tocar
Com mãos doces e respeitosas
a terra e se sujar

É essencial se empenhar 
e mergulhar profundamente
Em amores
e sobreviver

Há que se deixar também aprisionar
Por irmandades amizades valores
E algumas outras poucas coisas
que existem e valem a pena .

É preciso enfim escorregar
com loucura
Por frequências vibracionais
Cordas dimensionais
Universos ocasionais
Explosões germinais
Músicas incidentais
Intuições intestinais
Certezas ancestrais
E descobrir o prazer e a dor
do que é Bem
do que é mais...
do que é jamais....


MDansa

393. Mares de vergonha



nosso mundo escurece esfumaça embaça
Ares negros invadem
nossos pulmões paisagens
humanidades inocências esperanças
Sopros industriais emporcalham o céu
Poluem de urina e suor
De medo e injustiça
De descaso e desrespeito
nosso mar

um mar azul
que se perfuma com vapor de maresia
que reflete duplicando e trazendo pra perto
luzes de sóis e luas
mar que gera fecundo
cria vidas reprojetadas
em abismos secretos e impenetráveis
impensáveis
mar que se autorretrata de cores felizes

Mas não é...
os códigos dos sentidos foram enganados
contrastam e se chocam
com estes dias suas nuvens suas verdades:

O mar já se mancha
Há pouca esperança...
E nem conhecemos ainda seus segredos....

MDansa