sábado, 5 de dezembro de 2015

439. Numa semana

Sobre a chuva
Sobre o medo
Sobre solidão

Sobre seguir em frente
Sobre descobrir forças escondidas
Sobre saudade
Sobre ausência

Sobre impossibilidades
Sobre perdão a si mesmo
Sobre o querer
Sobre o saber

Sobre movimento
Sobre ultrapassar barreiras
Sobre não ter limites
Sobre descobrir que se pode derrubar cercas

Sobre enfrentamento
Sobre laços eternos
Sobre necessidades
Sobre notas musicais num background monotônico

Sobre balões pesados que podem voar
e se tornarem leves
Sobre metas, mitos, matas
É...sobre fugas, cachoeiras
Ser Sana ou inSana

Sobre astrologia ou astrofísica
Sobre insegurança
Sobre reencontros e desencontros
sobre sonhos e estrondos

Sobre trauma,
Sobre raiva
sobre alma

MDansa
05/12/2015

sábado, 24 de outubro de 2015

438.Um estilhaço de lembrança

Lembro de repente
Que não lembrei mais
Que não enlouqueci nem chorei
nem quis me matar

Lembro que olhei pra trás
E vi outro não mais você
E vi entre vivos e mortos
Não você mas apenas ele
No lugar certo na hora certa
De volta ao caminho
Depois de desvios alucinados
Estou onde devia estar

Obras no caminho
Acidentes desastres
Abutres catástrofes pedágios
presságios
Rimas perdidas na paisagem

Demorou mais que de costume
E não digo que me curei
Apenas amansei dentro do peito um dragão
Que incendiava minhas vilas
Minhas crianças

Lembro de repente de nós
Sem mordaças
Sem couraças
Com tudo que permaneceu e floresceu

Lembro de tudo
Lembro de repente de você
Lembro de repente de nós
Que já passamos
E esqueço aliviada

MDansa



437. Perdida no céu da boca

Perdida no inferno
Acorrentada e dolorida
Queimada e arranhada e ferida
Estrangulada pelas próprias mãos
Adestrada domada contida
Como um leão
Que teme e foge da chibata

Perdida no mundo
Sem achar caminho
Tentando atalhos e avenidas
Que não levam a lugar nenhum... até agora
(por favor, não desista!)

Sou seu espelho
Seu  alter ego
Psicografando suas dores
E ao mesmo tempo lhe ferindo
Por não lhe colher como flor
Queria lhe oferecer paz
Mas ela não mora aqui

Perdida no céu
Da boca
No ocaso da garganta
Na voz firme mortal
Certeira e visceral
Fêmea pulsando beleza e futuro

Perdida no céu fugaz
distraída entre nuvens
Perdida no sangue
Que viu escorrer e conteve a tempo
Antes que não pudesse mais voltar atrás
O caminho é duro
Não há paradas pra descanso
Não há saídas de emergência

O avião está em pleno voo
sobe sobe sobrevoa  voa paira
Em pisos de vapor
feitos de nuvens
Nuvens que formam imagens
imagens que são espuma e ao mesmo tempo algodão
E colchão de vento ou qualquer sabor que ocorrer na mente
- sabe-se lá até onde vai sua imaginação!

Tripulação de imagens e viagens
E você sonha em voar assim quietinha
só quietinha e feliz
Porque a felicidade é feita
de sonhos e de encantamentos

Mas é verdade... é difícil seguir
pois são tantas trepidações
São tantos turbilhões
São tantos tubarões

Vai..., coragem! não se preocupe não pare
você tem força de sobra pra seguir
trinca os dentes feroz como um leão
enfrenta a chibata
luta uma luta definitiva
Espia de longe sua alma exposta
E se não a reconhece
De cima e de longe localiza suas manchas que são tintas
E seus brilhos que são luzes de variados tons e frequências
Com os quais você pode pintar seu próximo quadro.

MDansa
<3





domingo, 4 de outubro de 2015

436. Fitas de olhos

Quando fujo finalmente
Pra esses olhos
Que me fitam
Enxergo com nossos olhos
Que o amor que me abastece
É invisível
Indivisível
Indistinguível
Improvável
Intocável

E infinito


MDansa

435. Domingo

Pra uma manhã de domingo
Sorrisos amores
Pra uma manhã de domingo
Sol, corredeiras,
flores

Pra uma manhã de domingo
Abraços abrigos
Pra uma manhã de domingo
sentimentos antigos

pra uma manhã de domingo
casa arrumada perfumada
pra uma manhã de domingo
revoada

pra uma manhã de domingo
pássaros sinos de igreja
bolo quente café e cerveja

Pra uma manhã de domingo
Acordar num sonho
Esquecer da vida
E lembrar de tudo
Que enxerguei um dia
Nos seus olhos


MDansa

434. Pedra menina

A lua chegou antes da hora
Antes que eu pudesse chorar 
você sorriu...
Antes que no céu a menina pedra se cobrisse de nuvens
Como você se enrolando em edredom
Enquanto a lua apressada se levantava
O sol já não importava
Dia ou noite tanto faz
Dois como um só sem saber
As luas as luas
As pedras meninas
As minas
No céu se perderam e
então brotaram dos olhos
águas salgadas

MDansa

Poema Preso (Viviane Mosé)


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Cura (Katia Fernandes)

Não faz muito, vertia choro
(Lamúria úmida, por entre brechas)

Não faz tanto, se apertava em pranto
(Lamento tímido, por entre frestas)

Por se crer, emergiu de dores
(Torpores sórdidos, à deriva)

Só há pouco, retomou seu pulso
(Batidas trôpegas, de dádivas)

Só a sós, recobrou sua força
(Ritmo cálido, em novas notas)

Com o tempo, ressurgiu em flores
(Pétalas íntimas, em hastes)

Com a vida, se deixou curar
(Abraços prósperos, à espreita)

Por se ser, fez-se fruto
(Néctar exótico, a beija-flores)

E sem perceber, irradiava amores
(Ardores vívidos, em profusão)

Ah! Meu coração....

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

433. Refugiados



É uma imensa massa
E se movimenta sobre a terra.
Parecem formigas
Mudando de lugar

Mas são humanos e têm medo.

Apavorados e famintos
Como gafanhotos
Procuram alimento e abrigo
E fazem barulho, mesmo mudos
E cravam punhais no coração da humanidade

Porque também são humanos e têm medo.

Cai na praia turca
Um corpo sírio
E toda dor da humanidade
se afunila ali de bruços
Pra permanecer suportável e imóvel

Mas agora aquela criança
nem é mais humana
E já não sente medo....

MDansa

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O estouro (C. Bukowski)



Demais
Tão pouco

Tão gordo
Tão magro
Ou ninguém.

Risos ou
Lágrima

Odiosos
Amantes

Estranhos com faces como
Cabeças de
Tachinhas

Exércitos correndo através
De ruas de sangue
Brandindo garrafas de vinho
Baionetando e fodendo
Virgens

Ou um velho num quarto barato
Com uma fotografia de M.Monroe.

Há tamanha solidão no mundo
Que você pode vê-la no movimento lento dos
Braços de um relógio.

Pessoas tão cansadas
Mutiladas
Tanto pelo amor como pelo desamor.

As pessoas simplesmente não são boas umas com as outras
Cara a cara.

Os bons não são bons para os ricos
Os pobres não são bons para os pobres.

Estamos com medo.

Nosso sistema educacional nos diz que
Podemos ser todos
Grandes vencedores.

Eles não nos contaram
A respeito das misérias
Ou dos suicídios.

Ou do terror de uma pessoa
Sofrendo sozinha
Num lugar qualquer

Intocada
Incomunicável

Regando uma planta.

As pessoas não são boas umas com as outras.
As pessoas não são boas umas com as outras.
As pessoas não são boas umas com as outras.

Suponho que nunca serão.
Não peço para que sejam.

Mas às vezes eu penso sobre
Isso.

As contas dos rosários balançarão
As nuvens nublarão
E o assassino degolará a criança
Como se desse uma mordida numa casquinha de sorvete.

Demais
Tão pouco

Tão gordo
Tão magro
Ou ninguém

Mais odiosos que amantes.

As pessoas não são boas umas com as outras.
Talvez se elas fossem
Nossas mortes não seriam tão tristes.

Enquanto isso eu olho para as jovens garotas
Talos
Flores do acaso

Tem que haver um caminho.

Com certeza deve haver um caminho sobreo qual ainda
Não pensamos.

Quem colocou este cérebro dentro de mim?

Ele chora
Ele demanda
Ele diz que há uma chance.

Ele não dirá

“não”.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

432. mil faces

Lua
face sua
Minha
outra face nua
Nossa
minha face crua
não estrada
não vias expressas
vias abertas
ferida exposta

Espia
tantas faces tuas
fria
tontass
linhas
Nossas suas
minhas
luas

03/04/2015
MDansa

quarta-feira, 29 de julho de 2015

431. Deslize

E eu te amparei com carinho e força
Sustentei sua cabeça e segurei seus cabelos
Corri pra cuidar da sua dor
E tão de perto lhe encontrei novamente
Violável e atrevida
Dei de cara com suas extravagâncias
A bebida destravou sua boca
e nos permitiu vômitos e beijos

E você arrastou meu desejo
Pra um canto qualquer
Escuro e fétido
Exigiu que ele se revelasse
Como a um demônio submerso
que perfumou o beco sujo

Nossos olhos fechados fizeram jorrar das fontes
águas de colônia
densas perfumadas e imprudentes
Palavras brotaram telepaticamente
porque a boca lacrada engolia sussurros
Gritos graves e roucos de canhão disparado abriram o peito.
Mas não se escutou nada.

Apenas anjos ouviram o chiar do rio e recolheram pistas
Nossos corações galoparam
Nossos corpos tremeram
E eu... sem culpa.... Finalmente... sem remorso

Curado por mergulhos profundos em abismos intermináveis
virei fumaça em noite fria saindo pela sua boca
formando anéis de saturno

Porque amor é assim
Amor não se sufoca
Não se nega
A culpa se perdeu
ao descobrir todo meu amor no seu

MD

domingo, 26 de julho de 2015

430.Enxergando depois de cega

Aqui neste canto
quieta no final do dia
Acendo uma fogueira
Bebo um vinho
Sinto um frio subentendido na cara
Refrescando pensamento
Reedito velhos sobressaltos e medos
E já não tenho qualquer vestígio de culpa

Liberta agora posso lembrar
Refazer vagarosa os passos
De um caminho florido
Hortências firmes explodem abrindo a primavera
A cada curva e gesto
Revelam-se tons pastéis
Em brotações repentinas
Enquanto as cores vão saltando

Meus olhos míopes
Tornam todos os contrastes e surpresas, amortecidos

Tudo combina agora
Mesmo embaçada
Quando abro os olhos.
Finalmente enxergo tudo.

É milagre!

MDansa

429. Seu nome é amor

Se eu risco seu nome no papel
Ele voa ou amarela
Como qualquer folha
seca de outono

Se eu desenho seu nome junto ao meu
Na casca de alguma árvore
Ela chora pela ferida
E seu nome vira cicatriz

Se eu rabisco seu nome
Pelos muros da cidade
Seu nome se enche de fuligem
E se perde entre os grafites

Se eu grito seu nome
Em alto e bom som
É só eco que escuto
Vão, sem mensagem

Se eu sussurro seu nome
Quieta num canto da casa
Ele vira vento, se revira todo
E some pra algum mar

Ali vai soprar velas
Desbravar terras
E  só assim seu nome chega
Em algum lugar

MDansa
___________________________________________________

A força de qualquer amor
Só vale a pena
Se construir

Amor que se perde
Que não se transmuta em energia
Não é amor
É covardia

MDansa

428. Voltando do Sana




 Difícil é se reconectar
Quando o corpo volta,
Mas a alma continua lá...

Difícil é se conformar
Quando já não há som
Que camufle nos ouvidos
o silêncio do tempo
Ou a música das folhas
Ou o burburinho das águas
(águas que lambiam as pedras
e se integravam nos seus poros de éter
- não há resistência)

Tão difícil fincar os pés
quando os pés ganharam asas
E querem voltar
quando a pele tem sede de se aventurar

Difícil seguir...
Difícil ficar....

Campos 20/07/2015

MDansa