sexta-feira, 29 de novembro de 2013

320. Recomeço



Ainda estou só, 
mas não choro, não reclamo
apenas morro
A poesia me salva
me sustenta
adia meu fim.
Almanaque de histórias
Recortes de imagens
Cheiro de paisagens
Pinceladas de cores
Numa tela esponjosa
Vitórias e dias tristes
Preenchendo com lágrimas e tinta
meu papel em branco, vazio...
histórias mal contadas
novelas inacabadas
enredos incompletos
Depois do fim do mundo
estamos nós ainda aqui
tentando não morrer
/sobreviventes/
usando poesia pra preencher
essas noites vazias....


MDansa

319. Tempo again (versão 2)



Mais ou menos uma hora
Não que faça diferença
O relógio atrasa e eu me adianto
Corro, tentando alcançar os segundos
Presa à ilusão de poder  domar o tempo,
este fluxo interminável de instantes.
Guardo ou esqueço momentos
coleção de histórias

que só existem
Como memória
Passado
Já foi
Nunca mais vai voltar
Só posso lembrar...

MDansa


318. Diferenças

 I.

Diferentes são as cores do espectro 
visível
nanômetros psicodélicos
que juntos constroem um arco-íris
Perfeição!

Diferentes são todos os sabores
Todos os saberes
Que colho e aprendo aqui e ali
receitas de doce e surpresa
Integrando horta e mesa
diversidades e experimentações de vida
Prazer provocado
Combinado
descobertas de outros paladares
sabedoria ...

Diferente é o seu igual
Que furta-cor e nuances
Esconde suas variantes
não revela o que é só seu
Segredo obscuro
Bobagem....

Igualdades são banais,
E o  diferente?...
Basta olhar no fundo dos olhos da gente

II.
Preto ou Branco
Bem ou mal
Certo ou errado
Anjos ou demônios
Grandezas ou pequenuras
Carecas, corcundas, barrigudos
Surdos, cegos, narigudos

Faces oleosas
Que brilham variadas cores
Tanino e melanina  formando gradientes contínuos
Lados da mesma lua
Restos de estrelas extintas
Que continuam por ai incógnitas
Só poeira cósmica

Qualquer coisa igual ou diferente
 É apenas energia materializada
Transitoriamente....
esculturas que decoram nossa casa
restos de elementos dissipados em nuvens e atmosferas
Universo debruçado sobre o caos
Debochado....
Morada de diferenças
Abrigo de todos iguais
Que rumam para o mesmo final inexorável

MDansa

imagem: http://ensaiosdegenero.wordpress.com/2013/01/07/

317. Força aí



Se precisar de mim
Estarei por aqui
Minha força oferto ao mundo
Ao amigo
que foi derrubado pelo vento
Oferto mão, braço
Abraço
Chego junto
Aperto o laço
Oferto respeito
Abro meu peito
Estreito o passo
Ainda estou aqui se você precisar de mim...

MDansa


316. Cores do pós-guerra



Troco de roupa
Troco minha túnica reta preta e dourada e carcomida
Por esta bata esvoaçante e livre
Troco de cores enquanto ainda é tempo
E as cores que espirram são 
do quarto, da casa, da rua, do coração, do tempo que encobre o passado
Abuso das cores mais claras, mais brancas,  mais leves, mais céu e nuvem e relva
procurando esquecer....

Troquei a escuridão das negras pedras dos meus anéis
Por brilhos mais contidos, pequenos brilhantes retidos
viajo saboreando o brilho ....
Não quero mais me expor nem lutar nem vencer
Me escondo em casamatas abrigos nucleares
subterrâneos
pra não explicar porque ainda estou viva

A guerra é finda - game over no campo de batalha
Mas ainda explodem bombas dilacerantes, granadas carregadas de tristeza
Mas ainda latejam dores de cadáveres e amputados
Fantasmas das minhas pernas arrancadas que voltam pra assombrar
- e eu quase posso andar -
Violência contida ulcera minha barriga
A guerra é finda, mas ainda sinto saudade,
Ainda ouço gritos, sinto golpes na alma e barbárie

Não tenho como secar as chagas
Nem esquecer mentiras e horrores
Nem ignorar as ausências e covardias
Nem controlar insanidades e desvios
Apenas troco de roupa
Fugindo do inferno e colorindo novamente os dias
Que ainda me restam de paz.

MDansa

315. Demônios



Aquela pedra multifacetada
jogada no meu caminho
tenta distorcer minha face
E emite essas cores miméticas e imorais

O sol  tem brilhado em cada semi-superfície
O brilho acentuando as figuras escondidas
(seres vorazes se concretizam)
Como formões esculpindo um aquele tronco caído
no rosto no posto
no desejo ...eles saltam pra mim

Incubus e succubus revelam-se
brotando de algumas mentiras
São meus demônios
vasculhando aqui dentro

drenando
experimentando
devorando
Usando minhas misérias, fraquezas, fantasias, abominações
(Seu alimento)

Enquanto permaneço neste sonho
Eles destroem alma e pensamento
Preciso voltar pra este corpo astral
Preciso acordar .... preciso acordar...
MDansa