terça-feira, 30 de julho de 2013

209. Acende a luz



Acende a luz
Quero acordar pra saborear a noite
O silêncio da rua
A paz dos sonhos
A ausência dos homens

Acende a luz
Pra que eu enxergue esses olhos
Que me enxergam
Que me fazem sorrir

Acende a luz
Que não posso deixar nem um tostão de vida
Passar em branco
Prefiro passar tudo a limpo
Na noite escura
Como se escrevesse histórias e estrelas no céu
Não vou dormir nunca mais...

Acende a noite
Que vejo luzes e cores me chamando
Preciso correr
Pra não perder o espetáculo
Correr pra buscar a lua
que nasce clara e cheia naquele mar
Testando a amplidão do céu

Acende a luz
que não quero que o tempo passe
sem ouvir toda a sonoridade
de bares, bandas, músicos, crianças insones
multitons
que acalentam as noites
e dormem exaustos pelo dia afora

Acende a luz
Vamos sair agora
Pra olhar o lado obscuro da rua
Deusas transvestidas de putas
Putas transformadas em gueixas
Gueixas retocadas de lua
Santos transmutados em michês
Transformistas
Transmutados
Transgredidos
Amados  armados
Liberdades individualidades
sensualidades
À flor da pele
Parda
Porque é noite
E todos os gatos são iguais
Tolerância humanidade

Acende a luz
Vem me vestir de lantejoulas
Que se confundem
Com o ritmo alucinado e pulsante
De faróis altos, semáforos, luzes negras, neons
E uma infinidade de fugas de energia
Transduzindo-se em caos
Porque é pra lá que tudo volta um dia

Desconstruindo a vida
Desmoronando castelos e palácios
Destituindo reinos e hipocrisias
Desfazendo erros
Destronando cargos, arrogâncias
Injustiças, atrocidades
E tudo o mais que existe

Apaga a luz
Quero contemplar
este universo volátil
caminhando na beira de abismos
Buracos negros
Expansão e retração
No agora
Infinitamente ínfimo rápido pequeno efêmero
O valor das coisas é relativizado
Customizado ilusório vazio absurdo
Jogue tudo fora e espie a noite

Agora acende a luz
que preciso enxergar novamente você
Porque pode ser a última vez.

MDansa

sábado, 27 de julho de 2013

208.Tudo bem agora

Tudo caminha bem
Tudo bem
em direção ao templo de palha
que o vento sopra sopra
e desmorona e destrona
Tudo caminha em direção ao fim
Tudo existe sem começo
Nem apreço
Somente solidão
Não, não choro mais
Não sei em que ponto parei de chorar
Acho que fugi da dor
Quando ela se tornou desesperada e incontrolável
Não admito mais
Pobre e patética hora
Rios de vergonha que correm
Em veias de aço e de sonhos
Tudo caminha bem agora
Tudo caminha
Bem agora
Vamos embora
Tudo bem quentinho
Quietinho
Só preciso de paz e sossego
Pra ser feliz aninhada no seu colo

MDansa

207. Toques de fada

Se estou sozinha, triste
Penso nas fadas
que se revelaram
e me fizeram acreditar em magia
Que me empurraram pra mais perto de mim
(De você, fada)
Os toques de fada que ganhei de presente
ainda ecoam como cantigas lapidando a alma
do ser mutante que pulsa aqui
Momentos mágicos são como pássaros
Voam ligeiros
Perfeito seria aprisioná-los pra sempre
Mas eles se vão, livres e velozes
Deixam lembranças etéreas de fadas
Fantasmas esvoaçantes de saudade

MDansa

206. Só mais uma vez...

Mais uma vez espero
Mais uma vez mistério
Mais uma vez enredo
Mais uma vez remédio
Mais uma vez espelho.

Mais uma vez verdade
Mais uma vez vontade
Mais uma vez saudade
Mais uma vez invade
Mais uma vez tão tarde

Mais uma vez....só mais uma....

MDansa

205. Exausta

Preciso ir, versejar
começo pelo extremo de um caminho
Nova partida sem meta
Preciso andar sem pressa
Não tenho que chegar
Preciso apenas caminhar 
saborear pedras e passos
Sóis e luas
Preciso me perder nas ruas

Não quero finais felizes
nem criar raízes
Quero novas matizes
Quero idas e não retornos
Quero um dia novo
a cada dia que envelhecemos
Juntos e desvairados
Quero surpresas da vida
O inesperado o impensável
Quero amanhã estar exausta novamente
No final do dia
Cheia de dores e alegrias
As que me mantem viva
Que me renovam
Que sacodem meus músculos e minha alma
quero me sentir calma
por não saber o que todos pensam já saber
Sabedoria dívida e estranheza da novidade
Adição, crescimento e liberdade
Quero fechar os olhos
Com a sensação de vida plena
quero viver serena.

MDansa

Tema dos inconfidentes - Chico Buarque de Holanda

Toda vez que um justo grita             
um carrasco vem calar
quem não presta fica vivo
quem é bom mandam matar
(...)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

204. Vinho

Vinho divino
Enaltece o pensamento
E flui a liberdade
de soltar voz verbo e língua
serpente homeotérmica
que roça esfrega se entrega
escorre vinho da minha boca
na sua
e a serpente natante
num banho de água bendita
destrava o tempo
fazendo o relógio parar
destrava o peito o coração
fazendo sua pulsação acelerar
à medida que a minha mão se entrega
E percorre seus rios e montes
Floresta e horizontes
E com a nudez da inocência alucinante
Caminha por desejos torturantes
E descobre o poder do sabor dos seus lábios
Sobre os meus enlaces
E termina num êxtase de mar
Mar de águas tão claras
Quanto a beleza do nosso oculto olhar.

C. Gruner e M. Dansa

Valeu Carol!!!

Meu absinto (by Carol Gruner)

(...)
 Você é meu ecstasy e eu absinto você.

203. árvore da vida

Procurei poesia
No google
Estava lá: a árvore da vida
Fui ler afoita e
Encontrei:
Estudo avançado sobre folhas de oliveira
Biologia (rs)

MDansa

PS. eu sou bióloga

202. Mandala

Tudo que vem da vida
Em ondas de prazer e dor
São presentes
Alguns fazem sorrir,
caem como uma luva na hora certa
Outros desagradam
Decepcionam
A gente chora, se ressente

Mas colinas e vales formam lindas paisagens
Dias e noites são parte do ritmo da vida,
O mal e o bem formam, no final das contas,
Uma mandala de cores
Circundando o centro anímico
Onde se fundem homem e cosmos
Numa evolução infinita, una, divina
Da qual somos apenas uma pequena parte

MDansa

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Mar de Ílvias - Clara Brito

Poderia ser chamada assim a flor
que um dia pôs a semente que fortaleceu meu jardim.
Só ela sabe de mim,
Só ela sabe que é assim.. o que tem que ser por assim dizer.
Flor do alva, de dom, favo e calma.
Uma amizade que tem a leveza de uma pétala mais a força
de um caule forte com espinhos..
Fui eu ou foi ela que conquistou esse amor de tanto respeito,
renascendo da relva, da raiz de uma árvore que nunca deixa de crescer.
Foi o Mar que trouxa as "ílvias" até minha raiz.
Foi a Marílvia, minha amiga que me ensinou a ser feliz.
Quando havia tempestades em nosso caminho
ela me abraçava com palavras de consolo dizendo
que a dor não era só meu inimigo..
E com a história de sua vida eu aprendi mais um pouco como ser mulher.
Quando a gente ouvia nosso som e ela chorava comigo
eu tinha certeza que não era apenas um amor de amigo.
As flores do jardim de Marilvia sempre brotaram comigo.
E esse perfume de mulher forte sempre segue comigo,
O tipo de mulher que sempre quis ser o que hoje é.
Uma mar de "ílvias" brota no meu pé.
Meu jardim é feito de Dansa..
por isso que ao lado dela
eu sempre sinto a minha alma
livre como a de uma criança..
..
Dedico esse poema a Marílvia Dansa.

Clara Brito

obrigada, Clarinha. Vou guardar no coração!

201. Mares

Navego lentamente,  por nebulosas e neblinas
Que linguagem é capaz de descrever a emoção?

Navego ferozmente, por pores de sol e fuligem
Que linguagem é capaz de descrever a sensação?

Navego guerras
e uso poesia pra falar das batalhas travadas destravadas
mortalhas

Então cuspo palavras, como bombas
Escarro frases, como balas
E as secreções que libero
E os excrementos que produzo
São mais puros que o coração
MDansa                                                            

Heidegger sobre linguagem e poesia (traduzido e legendado em português B...

domingo, 21 de julho de 2013

200. A (p) arte direita do cérebro (IV)

Por que você vê o que o mundo não vê
por que você canta o que ninguém ainda ouviu
Por que seus acordes estalam,
se rompem, 
se esparramam na parede
como um eco em meu ouvido
Como estrelas que nenhum deus criou
Neste momento é você o criador
que sente na alma o poder de desbravar fronteiras e chegar ao infinito
Somos invencíveis, indestrutíveis
onipotentes, proibidos
Podemos fazer da vida uma experiência divina e única.
Somos deuses porque criamos!!!
Criatura e criador brincam agora como crianças....
de fazer arte
Esc.ape

MDansa

sábado, 20 de julho de 2013

199. A (p) arte direita do cérebro (III)

Arte é tentação
Arte é ação, é inveja
é reação
Sair do lugar e buscar
Pelo que sua alma estrela, estréia, estala
E berra
Implodir
fugir pra dentro de si
por dobras cerebrais e vasos laterias
Não usados, não ousados
Não explorados
Engilhados/ Engatilhados/ Silenciosos
caminhos que precisam ser precorridos
inevitavelmente.

MDansa

199. A (p) arte direita do cérebro (II)

A arte é solitária é autista
um pouco matemática
um pouco alquimia
Aceitação mergulho
Delírio e fantasia
Viagem e loucura
ou simplesmente tesão
Eu e o outro num encontro
me acho e te acho
mas nunca nos achamos
os caminhos se tocam, nós não
Nunca misturas, nunca miscigenação
Individualidades profundas cruéis reais
Sou eu mesmo que me encontro em você
Não sou eu, é só você quando me lê e entende o que digo  e assim se encontra em mim
No hemisfério direito do meu cérebro
Ali onde acho minhas revoluções, circunvoluções 
ali onde encontro você
e me transformo em qualquer coisa tão diferente
tão livre e tão eu quanto você
e tão você quanto eu
Você que não fui mas sou
ou talvez serei um dia
Se ainda sobrar tempo
(Mutações camaleônicas)
ou nunca serei
ou talvez  se eu ousasse um pouco mais
e fosse além das amarras das fronteiras
Do método
Descartes que se foda
a vida vai muito além do provável
Arte é Libertação
MDansa

198. A (p) arte direita do cérebro (I)

Jogo tinta no tapete/na parede/no mural
Jogo tinta que transforma imagens em rima, mimica, música
No papel e no jornal
Jogo tinta riscando caminhos tatuagens
Onde encontro você sozinho
Voando no seu próprio universo infinito
Cantando tinta e poema
cores e rendas
aromas e rosas
amores e prosas
tudo que brota de você
como semente germinando sentimento verde
Jogo tinta na nossa tarde
borrando um por de sol
mas nada disso é nosso:
presentes da inconsciência
retalhos de ciência
Improviso 
arte

MDansa

197. Ilha ao entardecer

Queria falar da gaivota branca
(nunca prestei atenção em gaivotas que não fossem as brancas)
Queria falar dos olhos
que me cercavam, espreitavam
Seus olhos...
Morenos, profundos, interrogativos, atávicos
Seus olhos não são um mistério
São meus próprios olhos
E com eles te enxergo
Nossos olhos
me mostram tudo entre eu e você
E todo o resto que não vejo         
Olho bem Lá no fundo
e lembro da gaivotaquasebranca
Na baia de Guanabara
Naquele quaseentardecer que assistimos juntos
Naquela tarde...
Em que uma gaivota perfeita (ou perfeito era você?)
Perambulava pela praia, meio sem rumo, meio vagabundo
Com medo de se aventurar mais longe
Mais fundo
E ficava por ali sem ir a lugar nenhum
E mesmo assim era livre feliz
E completava a paisagem
Nós dois, olhos compartilhados, uma gaivota branca e a paisagem incidental da baia de guanabara

MDansa

196. A vida é uma droga

Droga é a vida
Que presenteia e surrupia
Que esmaga e engrandece
Que te sorri e enlouquece
Injusta e perversa
Que joga no fundo do poço
Amantes sensíveis
Poetas insensatos
Ingênuos bastardos
Irresponsáveis irrecuperáveis
de bom coração

Droga de vida
Que mostra suas cores
Mas amanhece nublada
E tarda noite negra
pra tantas almas

Droga é a vida
Pra quem olha pro lado
e vê chocado
Mazelas e ruínas.
Pra quem chora e se importa
A vida é feita de horrores

Sobrevivem os "fortes"
Aqueles que não se importam
Aqueles que, insensíveis ao mundo,
Apelam a deus apenas por eles mesmos
E riem da sua sorte
E riem daquele que não venceu, loser
Tripudiam, enganam, mentem
E ficam rindo da gente

A vida é uma droga
Pra milhões de miseráveis
E outros milhões de otários
Que ainda acreditam que fazer o bem
É apenas uma extensão da sua alma
e vão além
Acreditam que a força da sua luta
pode mudar tudo
E lutam...
Batalhas inglórias/ Guerras surdas
Guerrilhas dentro de si mesmo e no mundo
Até virarem anjos, fadas, heróis
Voam e desaparecem, anônimos
De um dia pro outro
Somem
Mas continuam velando por nós, gigantes acordados 
enquanto dormimos...

MDansa


Aos sindicalistas, associações de moradores, DAs, DCEs, ONGs, sociedades científicas e profissionais e todo tipo de organização social  e desorganização social que se manifesta em favor da justiça e da honestidade e aqueles que acreditam e lutam por um ideal. Aqueles que não calam e que fazem da  vida uma escala para o divino, uma porta para o infinito. Aqueles tantos anjos que entram e saem da minha vida e a fazem valer muito a pena, mesmo sendo uma droga rs.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

195. Amor em cachos

Suas luzes escorregam em tobogãs dourados
criando criança arco-íris / cintilações.
Seu amor se esfacela num beijo
(demorado, acolchoado de lábio e cheiro)

E espalha raspas de alegria enfeitando meu sorvete. Deleite

Menino matreiro, certeiro, zombeteiro
Seu amor respinga em gotas no meu jardim
Suas gotas pulam em mim
e regam flores que nascem no meu peito
Suas pernas saltitam tanta energia.............
é esta toda força que preciso pra caminhar
Seu amor, escorre das árvores rápido

como chuva que não quer cair
e se tranforma em ambar
pra durar séculos
pra manter presos os elos, preservar esperanças

os domingos e o sol de todos os meus dias

Seus olhos, que no fundo me brilham,
refletem a beleza que vem de você
Espelho infinito de nós dois
Um no espelho do outro... sorrindo
Harmonia/ Eternidade/ reflexo sem fim/

Repetições

Olhos de menino assustado
Maravilhado questionador
Que quer tocar nuvens
Apanhar cometas pra devolver ao céu,
voar, fazer besteira
que teima, que vibra e quer tentar

Amor caindo em cachos
Como uvas, saborosos cachinhos que se confundem com os meus
Em uma confusão de nós que nos atam e nos mantem juntos
Videiras do tempo, do contratempo, do tempero e movimento


Unhas sujas de terra me oferecendo flores em buquês
margaridas e sálvias frescas colhidas pelo seu caminho
onde seus pés vão e param e, de repente, lembram-se de mim
e me colhem com o pólen e a poeira caída de estrelas,
poças de néctar, pedrinhas roliças da beira da lagoa.

Peito livre liberto sem doutrinas
Sem amarras, sem maldades
Com perguntas que faíscam pela boca, pelos olhos, pelos poros
Infância que guardarei pra sempre no meu baú de relíquias


Um menino pede minha permissão
Pra ser feliz e arriscar e ir além
Vai lá, meu neguinho!!!
Estarei sempre olhando por você.

MDansa

(fotos de acervo pessoal)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

194. Dragão ao entardecer

Neste final de tarde anoitece como deveria ser
cai a noite novamente
e mais um dia se despedaça em trevas
Silêncios/sussurros/barulhos escondidos
agora gritam.........................................................
Zunindo nos meus ouvidos que estiveram surdos
O final de tarde me paralisa como se já não restasse tempo pra mais nada
Meu amargo final é um dia a mais que vai e não volta
se solta do colar de contas da vida, pluft, e vai pro bueiro
fico olhando.......................................................................
Amanhã vem outro dia que terminará do mesmo jeito, sem jeito, meio vazio, meio malfeito
Os ruídos gritam nossas vozes calam
É como subir a montanha mais alta e ouvir de lá o inferno murmurante de palavras imorais
Quem já subiu sabe do que estou falando
Quem já saiu do inferno e o contemplou de longe, sabe do que estou falando
Mergulhados no inferno, rodeados pelos sons do inferno
Somos demônios sobrevivendo
O caldeirão ferve e sopra fogo e fumaça e nós...
matamos/desmantelamos/dilaceramos/destruímos
Por nada.
Já pensou se tudo isso vale a pena?
Então vá, apenas suba a pedra mais alta e contemple de lá a sua casa....

MDansa
http://danielmedsport.blogspot.com.br/2013/03/domingo-de-pascoa-31032013.html

terça-feira, 16 de julho de 2013

193. observando borboletas



Borboletas brotam no meu peito
Saem pela minha boca em direção à sua

Passeiam por suas pernas, 
Deslizam por seus cabelos
Escorregando em ondas

Fazem voo rasante no seu peito
Esbarrando nas aréolas

Derrapam na trajetória curva
que eu observo...

Tomam conta do ar
 Enchem sua casa

Pousam em mim 
Me levam até você
Que, alheia à festa,
Nem me vê...


MDansa

domingo, 14 de julho de 2013

Liv Nicolsky


"...mas sempre tive a mão giz-de-cera
porque cinza deixa mórbido,
ou morno, ou ambos...
foi assim que aprendi a colorir poeira..."

192. Salvação

Coração pesado
Estilhaçado
Emperrado
Arritmia
O inimigo está próximo
Se aproxima mais
Quer me atingir com sua lança
A cabeça dói
São fantasmas que rondam
Querendo desafiar minha paz
Querendo desferir seu punhal
na pane cardíaca que ainda bate
Estocadas precisas calculadas
que me mantem viva
saboreando a aflição, a agonia
O inimigo quer desfrutar da minha morte lenta
quer me ver sangrar e gemer

Mas vem você e, mesmo me vendo partir, me chama
Me salva
Me resgata
E eu moribunda
Tento um último suspiro.

MDansa

quarta-feira, 10 de julho de 2013

191. Assombração

Meu olhar flutua
Na montanha nua
Procuro por suas recordações
Procuro por você
Vejo fantasma
Plasma
Ilusão, torpor, miragem

Subo a colina até o céu
Onde encontro as mesmas estrelas que você
e as colho
ofegante e ávida

Aquele momento rápido veloz
é meu maior algoz:
com estrelas nas mãos, lembro de tudo
recordo seu calor de estrela
E choro copiosamente.

MDansa

terça-feira, 9 de julho de 2013

190. Estranhamento

Não me sinto à vontade
Me incomoda a vida
Sou estranha
Soo estranha

Estranhamente
Me desconheço
Me despedaço
Procuro minha sina
E o que vejo são remendos
Meus cacos são toscos
Não carregam a beleza do mosaico
Nem a fascinação do caleidoscópio

Vou apenas desconfortavelmente
Me virando como posso
Como passo
Vou passando
Vou morrendo
Vou levando
Mas não é fácil. 

MDansa

domingo, 7 de julho de 2013

189. Linha do tempo

Na linha da palma da sua mão
Que esbarra e cruza
Com a minha
Passam rápidos anos
E eu nem sei em que ponto estou
Perdida assim,
Rejuvenesço
Envelheço
procuro a estação
onde nossas linhas se encontram
finalmente acho seu caminho
Caminho por ele
deslumbrada 
Leio o veio o destino e enrredo
Devaneio
Sincronizo, na sua linha, o amor que escondo
o amor que encontro
e vivo um sonho
mas acordo e sinto
não é meu este dia
não é este o meu ano
É seu
É seu tudo que virá
Você amanhã sou eu
Hoje você será

MDansa

sexta-feira, 5 de julho de 2013

188. Fio.... condutor

Eu estarei aqui
Pra você
Pra o que vier
Se você quiser
Se você precisar
Meu colo tem um vago espaço infinito guardado
Pra criança que habita em você
Se as mazelas do mundo te alcançarem
Foge pra cá
Escapa do mundo
Fica quietinho
Não precisa falar nada
Não precisa explicar
É só chegar
Não precisa chorar
É só olhar
Seu olho impressiona minha retina
e toma conta da minha alma
E eu entendo
A criança que sofre
O adulto que grita
O velho que se constrói
É assim que a vida nos ensina
Assim é a vida.
Não esqueça de se preparar pra ela.
Bem vindo ao mundo, fio.
Seja feliz!

MDansa

quarta-feira, 3 de julho de 2013

187. Ode à árvore

Toco teu tronco
corpo vigor
Pra trocar
Unificar
Somos, então,
Um
Por um
Minuto

Toco teu tronco
Pra fundir
Fluir/Aproximar
Entender

Me troco...
Falo telepaticamente
Palavras de amor
E suas folhas me ouvem
tremem
E suas raízes se aprofundam
gemem
E sua seiva desliza
Nos vasos
De flores
Que enfeitam minha casa

Troco teu tronco enrugado
Decenário/ Encerado /Encarcerado
por histórias
E amores talhados na casca
que se desenrolam
À sua sombra tosca
Quase fosca

Toco meu tronco pra absorver
sua seiva elaborada
Pura
Nutriz

Toco teu tronco
Pra fotossintetizar energia híbrida
Transduzida em poesia
eólica, bélica, sensual, vegetal
Que se transforma
em movimento contido de galhos
De âmbar, de calangos
Dança do tempo
Dança do ar
Vigilante em minha casa
ponto final onde
Observo
Aprendo

Tudo o que puxa da terra
e devolve ao ar
Por estômatos e raízes vorazes
formando um ciclo infinito
é aquilo que respiro
Que engulo
Que transformo
Em aceitação final
Choro
Abro os olhos e o sol que me cega
faz fotólise da água que escorre.


MDansa

terça-feira, 2 de julho de 2013

186. Karmic cat


Andei vagando à noite
Interessado em feixes luminosos
Atrás de estrelas
atravessando paredes
mergulhando cautelosamente
em rio caudaloso

Andei sumindo no mundo
Sem dono
Sem destino
Sem coleira
Sem fronteira

Andei pulando muros
Esgueirando-me na sua cidade
Espreitando sua vida
Saltando pra um susto
Pra morte
Fui pego
Fazendo barulho
... distraído

Andei encontrando abrigo
Em improváveis e sombrios becos
Escondido, esquecido
Ausente a tudo
Demente, itinerante
No lado obscuro da lua
Andei na rua

Andei no teto
Andei pensando

E agora não sei mais
Pra onde ir
Porque fugi
Apenas sei que ainda sinto medo
E não é mais cedo
Pra se andar por ai

MDansa
imagem: http://www.smh.com.au/articles/2004/09/22/1095651383239.html