sexta-feira, 31 de agosto de 2012

28. Aspirando você


Aspiro o mundo
Quero sorver
Engolir
Respirar a noite
Sentir o gosto das manhãs
Ouvir teu respirar
O pulsar do seu coração
No meu coração

Aspiro a idade
A vontade
A cumplicidade
Olho vc impregnando
Sua imagem
Na minha retina
Pra sempre
Pra não esquecer

Aspiro sua imagem
As nuances
As texturas
Seus cheiros
Seu gosto
Você invade
Meus sentidos
Meus temores
Destroça meus medos
Afugenta minha incerteza

Aspiro sua alma
Compartilho seu pensamento
E vou além
Em tudo que a gente tem.

MDansa
30/08/2012
3:54h

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Carlos (o Drummond de Andrade)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Everything changes

Vivendo em segredo com minhas artimanhas,
minhas mentiras, é tudo meu.
Escondido no meu livro interior.
Ninguém pode ler.
Sou um enigma que às vezes até eu preciso descobrir.
 Procuro partes de mim em outras pessoas, raro quando encontro, raro quando não me apaixono.

Sinto uma emoção com a intensidade de "Mil Sóis".
Apesar de existir apenas um, gostaria de ter em mãos todo esse calor, o fogo que dou em troca do frio que recebo.
Não sou feliz com minhas historias, mas não me arrependo dos meus atos, por mais maliciosos que sejam.
Sou uma fruta corrompida que foi comida contra as ordens de um Deus que me criou.
E agora pensando que não sou culpada pelos meus atos eu beijo o diabo.
Por ter me dado um dom que nem é dele, o dom de pecar e sempre ser perdoado

(Clara Brito)