sábado, 24 de outubro de 2015

438.Um estilhaço de lembrança

Lembro de repente
Que não lembrei mais
Que não enlouqueci nem chorei
nem quis me matar

Lembro que olhei pra trás
E vi outro não mais você
E vi entre vivos e mortos
Não você mas apenas ele
No lugar certo na hora certa
De volta ao caminho
Depois de desvios alucinados
Estou onde devia estar

Obras no caminho
Acidentes desastres
Abutres catástrofes pedágios
presságios
Rimas perdidas na paisagem

Demorou mais que de costume
E não digo que me curei
Apenas amansei dentro do peito um dragão
Que incendiava minhas vilas
Minhas crianças

Lembro de repente de nós
Sem mordaças
Sem couraças
Com tudo que permaneceu e floresceu

Lembro de tudo
Lembro de repente de você
Lembro de repente de nós
Que já passamos
E esqueço aliviada

MDansa



437. Perdida no céu da boca

Perdida no inferno
Acorrentada e dolorida
Queimada e arranhada e ferida
Estrangulada pelas próprias mãos
Adestrada domada contida
Como um leão
Que teme e foge da chibata

Perdida no mundo
Sem achar caminho
Tentando atalhos e avenidas
Que não levam a lugar nenhum... até agora
(por favor, não desista!)

Sou seu espelho
Seu  alter ego
Psicografando suas dores
E ao mesmo tempo lhe ferindo
Por não lhe colher como flor
Queria lhe oferecer paz
Mas ela não mora aqui

Perdida no céu
Da boca
No ocaso da garganta
Na voz firme mortal
Certeira e visceral
Fêmea pulsando beleza e futuro

Perdida no céu fugaz
distraída entre nuvens
Perdida no sangue
Que viu escorrer e conteve a tempo
Antes que não pudesse mais voltar atrás
O caminho é duro
Não há paradas pra descanso
Não há saídas de emergência

O avião está em pleno voo
sobe sobe sobrevoa  voa paira
Em pisos de vapor
feitos de nuvens
Nuvens que formam imagens
imagens que são espuma e ao mesmo tempo algodão
E colchão de vento ou qualquer sabor que ocorrer na mente
- sabe-se lá até onde vai sua imaginação!

Tripulação de imagens e viagens
E você sonha em voar assim quietinha
só quietinha e feliz
Porque a felicidade é feita
de sonhos e de encantamentos

Mas é verdade... é difícil seguir
pois são tantas trepidações
São tantos turbilhões
São tantos tubarões

Vai..., coragem! não se preocupe não pare
você tem força de sobra pra seguir
trinca os dentes feroz como um leão
enfrenta a chibata
luta uma luta definitiva
Espia de longe sua alma exposta
E se não a reconhece
De cima e de longe localiza suas manchas que são tintas
E seus brilhos que são luzes de variados tons e frequências
Com os quais você pode pintar seu próximo quadro.

MDansa
<3





domingo, 4 de outubro de 2015

436. Fitas de olhos

Quando fujo finalmente
Pra esses olhos
Que me fitam
Enxergo com nossos olhos
Que o amor que me abastece
É invisível
Indivisível
Indistinguível
Improvável
Intocável

E infinito


MDansa

435. Domingo

Pra uma manhã de domingo
Sorrisos amores
Pra uma manhã de domingo
Sol, corredeiras,
flores

Pra uma manhã de domingo
Abraços abrigos
Pra uma manhã de domingo
sentimentos antigos

pra uma manhã de domingo
casa arrumada perfumada
pra uma manhã de domingo
revoada

pra uma manhã de domingo
pássaros sinos de igreja
bolo quente café e cerveja

Pra uma manhã de domingo
Acordar num sonho
Esquecer da vida
E lembrar de tudo
Que enxerguei um dia
Nos seus olhos


MDansa

434. Pedra menina

A lua chegou antes da hora
Antes que eu pudesse chorar 
você sorriu...
Antes que no céu a menina pedra se cobrisse de nuvens
Como você se enrolando em edredom
Enquanto a lua apressada se levantava
O sol já não importava
Dia ou noite tanto faz
Dois como um só sem saber
As luas as luas
As pedras meninas
As minas
No céu se perderam e
então brotaram dos olhos
águas salgadas

MDansa

Poema Preso (Viviane Mosé)


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Cura (Katia Fernandes)

Não faz muito, vertia choro
(Lamúria úmida, por entre brechas)

Não faz tanto, se apertava em pranto
(Lamento tímido, por entre frestas)

Por se crer, emergiu de dores
(Torpores sórdidos, à deriva)

Só há pouco, retomou seu pulso
(Batidas trôpegas, de dádivas)

Só a sós, recobrou sua força
(Ritmo cálido, em novas notas)

Com o tempo, ressurgiu em flores
(Pétalas íntimas, em hastes)

Com a vida, se deixou curar
(Abraços prósperos, à espreita)

Por se ser, fez-se fruto
(Néctar exótico, a beija-flores)

E sem perceber, irradiava amores
(Ardores vívidos, em profusão)

Ah! Meu coração....