quarta-feira, 27 de abril de 2016

454. Tudo preso

Tenho aqui presos tantos sentimentos
Que foram poesia e se perderam
Que ao desabrocharem, alguém colheu
Antes que florescesse

Tenho aqui na garganta tantos gritos
Que vieram de dentro pra fora
E amordaçaram
Antes que fugissem

São tantas histórias
São tantos suspiros
São delícias e martírios
Dúvidas e estribilhos

Tem aquela noite e os corpos
Tem aquela paisagem e os olhos
Tem aquela lembrança tão verde
Tem aquela sensação de êxtase

Tudo devidamente autorizado
Permaneceu no peito
E quer explodir

MDansa

24/04/2015

segunda-feira, 25 de abril de 2016

453. Lua

Tem uma lua linda aqui!
Ela veio agora
surgiu entre os prédios
e inesperadamente
decorou a  noite.
Uma lindeza!
Eu bebo nela minhas lembranças
minhas vidas
algumas óbvias
outras nem tanto
Tonta me liberto
e volto a te amar!

MDansa

terça-feira, 19 de abril de 2016

452. razões (ainda agora)

E no escuro da noite, a permissão
o fogo, a leveza, a sedução
Reflexos na sombra
e tanta luz
que ainda agora restam réstias
iluminando a noite nos meus olhos

Desenhos na pele: um sol
na madrugada morna
um tremor diáfano
uma transpiração

E mesmo agora
O coração sobressaltado não para de bater
as borboletas saltam do estômago
- e voam para o papel em direção ao dia ... poesia...
e não se tem notícia
de razões

No escuro da noite, só há uma razão
indesculpável, indecifrável, soberana
a incontrolável liberdade
de amar.

MDansa


O meu olhar é nítido como um girassol (Alberto Caeiro)

II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

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PS. Alberto Caeiro é um dos heterônimos de Fernando Pessoa

segunda-feira, 18 de abril de 2016

451. Pra não me perder

Eu corro
não paro pra não pensar
não posso pensar pra não me perder

Não paro
Não tento entender
Não posso entender pra não me perder

Não tento
Não entendo nada
Só corro pra tentar não te perder

MDansa

domingo, 17 de abril de 2016

segunda-feira, 11 de abril de 2016

449. colagem

a paisagem me cola
estica e adere
tirando bolhas de mim

a paisagem me espeta flores
nos cabelos e entre os dedos
nascentes águas frescas me saciam
algumas cores tingem tudo
sem rolos nem pincéis
somente por difusão
misturas e absorção passiva
entre paisagens
entre miragens
entre tons de verde e pássaros e nuvens

cordilheiras fazem sombra no céu
como se fossem véus
abro o peito à paisagem
e ela vem correndo me habitar
Sinto sensações inexplicáveis
que me desintegram e integram
a paisagem me cola na cara e no peito
feito mergulho em água fria
feito voo em ares altos
feito alegria

MDansa
11/04/2016