terça-feira, 19 de novembro de 2013

305. Reinventando rodas


No tempo que já não conta
que já não importa
Sorríamos rasgadamente.
No inicio do dia
espiando o sol nascer.
A luz entrava pela porta 
o mundo vertia novidade
E não enxergávamos de fato o futuro
nem um palmo diante do nariz
mas aprendíamos rápido a reconhecer a maldade

Aqui e ali o que queríamos se movimentava
em pinceladas discretas
De tinta lisérgica
Pintando mundos impensáveis
quimeras construidas
de gfp* e sonhos
ou pesadelos medonhos

Sorríamos regularmente
Quando supúnhamos
sermos a vanguarda
a rebeldia a transformação de tudo
com todas as respostas.
o tempo
a política
a moda
a atitude
a verdade
tudo era previsível e controlado
mundo fácil na palma da mão
manipulávamos o presente 
e assim construíamos o futuro
a passos largos com todas as soluções na ponta da língua
Ignorantes do passado
Reinventando rodas e beijos molhados
Vivendo os mesmos desastres
Os mesmos erros
Os mesmos desatinos
nos vangloriamos do óbvio
Quem não viveu?

Sorríamos por tudo
De felicidade, de ansiedade de fúria de deslumbramento
Sussurros de ignorância e arrogância
misturados em cores de mandalas
Aprendemos erroneamente a usar esta máquina carnal
a máquina que gira incansavelmente até que um dia....pára

Tenho pressa: não posso ir embora sem saborear tudo! 
Até lá  destruímos neurônios eritrócitos e longevidades
(restam quantos anos ainda?)
com drogas de soma
com doces porcarias
com dores profundas
com desejos reprimidos
Numa tentativa de conquistar o mundo o prazer a vida
Que fiasco!

Levamos tanto tempo para aprender a usar
alguns destes músculos da face... do coração
Os gestos da mão
As mãos
Os gestos
As palavras
Os significados
Os sons das palavras... Canto!!!!
Hoje, sorrimos raramente
Fatigados dos dias sem surpresas
sem desatinos, sem certeza alguma
Dias que passam como as páginas de um caderno em branco
no qual escrevo compulsivamente
pra deixar registros destas dores destas dúvidas desses dias
que não voltam atrás

MDansa

*gfp = green fluorescent protein, esta é uma proteína produzida por um cnidário, responsável pela fluorescência verde deste organismo. O gene desta proteína é usado para monitorar o sucesso de um transgênico ou de um construct, de alterações genéticas em uma célula etc. Existem outras funções, mas é desta função que a poesia fala.

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