sexta-feira, 29 de novembro de 2013

316. Cores do pós-guerra



Troco de roupa
Troco minha túnica reta preta e dourada e carcomida
Por esta bata esvoaçante e livre
Troco de cores enquanto ainda é tempo
E as cores que espirram são 
do quarto, da casa, da rua, do coração, do tempo que encobre o passado
Abuso das cores mais claras, mais brancas,  mais leves, mais céu e nuvem e relva
procurando esquecer....

Troquei a escuridão das negras pedras dos meus anéis
Por brilhos mais contidos, pequenos brilhantes retidos
viajo saboreando o brilho ....
Não quero mais me expor nem lutar nem vencer
Me escondo em casamatas abrigos nucleares
subterrâneos
pra não explicar porque ainda estou viva

A guerra é finda - game over no campo de batalha
Mas ainda explodem bombas dilacerantes, granadas carregadas de tristeza
Mas ainda latejam dores de cadáveres e amputados
Fantasmas das minhas pernas arrancadas que voltam pra assombrar
- e eu quase posso andar -
Violência contida ulcera minha barriga
A guerra é finda, mas ainda sinto saudade,
Ainda ouço gritos, sinto golpes na alma e barbárie

Não tenho como secar as chagas
Nem esquecer mentiras e horrores
Nem ignorar as ausências e covardias
Nem controlar insanidades e desvios
Apenas troco de roupa
Fugindo do inferno e colorindo novamente os dias
Que ainda me restam de paz.

MDansa

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