quinta-feira, 10 de abril de 2014

377. Minha viagem em você


Minha boca entreaberta estremece...
Pressente a aproximação do seu gosto
Minha boca aguarda seu sabor que vem vindo, vem vindo...

Minha boca em cuia suplica 
que sua água brote e resolva minha sede
e oferece  como presente,  agradecida,
serpente laço afago língua e esculacho
Meus sensores atentos e a postos
capturam o calor que você exala
O perfume que evapora da pele quente toma o quarto
Como névoa entorpecente inebriante envolvente
Na contramão, sua boca entreaberta
exige afoita a minha
enquanto fecha os olhos, suspira meu ar
meu tesão pretensão impaciência fúria
e tudo o mais que compõem meu ar excretado
mistura luxúria....
Compasso contido
esperando por minha água
e ela brota jorrando do meu desejo
...meu beijo 

Sinto mal súbito desmaio
momento exato do encontro
Ansiado
toque guardado roubado
Respiro fundo pra não morrer
ensaio...
Fecho os olhos pra manter suspensa
Aquela única e preciosa fração de tempo
Em que capturo você
e reconheço a morte
Experimentando sua nudez
Não suporto mais a espera, a contenção:
Me lanço e nossos corpos guerreiam
Violento embate de quereres e prazeres

Desfaleço
tropeço 
adoeço ...
Seu estúpido olhar de desejo
-como tantos outros que recusei -
é o que me dilacera
Me rasga, me perfura
Me encolhe, me engole, me esmaga
Me entende, me ensina, me pretende
Me remete
E vai no ponto onde eu e você  libertamos um grito
Canto de notas proibidas navegam nosso sangue
como navios, escunas, veleiros à deriva
Barcos que adentram nossos portos
Fundeando-se em nossa carne crua
com ancoras que se agarram no coração
provocando despolarizações sucessivas
incontroláveis 

Esta viagem parece alucinação
Mas não é...
É só pão que me alimenta
É circo que me lança de foguete
ao lugar onde você esconde  segredos
por trás de picadeiros arenas lonas
muito acima de quaisquer mágicas e alegrias
Só você alegra o dia...
Parto e chego repetidas vezes
Caminho procurando chegadas
mas a jornada é incerta 
como o clima o tempo
os ventos as tempestades as catástrofes
Suas águas (calmas ou revoltas) enfim...
me encharcam, 
banham a memória e lembro do caminho
Retomo confiante minha viagem por você...
Até o dia, em que meu barco finalmente naufragar
E as lembranças forem esquecidas num baú gigante
que repousa no lugar mais quieto frio e profundo
do meu mar

MDansa



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