quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

358. Catarse



Discorro hoje no divã
Sobre uma suposta completude
...minha totalidade
retalhada
Formada de cacos irregulares 
espalhados pela sala
E pedaços de espelho
estilhaçado
Meus anos de azar....

Discorro plenamente
a plenos pulmões
sem tomar fôlego
Com o coração em chamas e alguma coragem
E água quente
Escorrendo dos olhos
Sem controle

Respiro fundo e me confundo
Discorro compulsivamente
embriagada e entupida
Correndo pra jogar tudo pra fora
Meus prisioneiros precisam quebrar as grades
Desta prisão
ganhar liberdade condicional
por bom comportamento
- cativos calados,  controlados, amordaçados
reprimidos, contidos...
antes que desistam da fuga
querem olhar novamente o céu
tentar novamente a porta da frente
rasgando-se novamente pra deixar entrar
brisa e sol
Falta pouco....

Discorro pra você esta fábula de uma humanidade vulgar
Formada de venenos e amores  erros  emoções
perdas danos irreversíveis
tão comuns
tão comum....  sou tão comum
Tento recuperar
O que de mim restou depois de tudo
alguma coisa que ainda valha a pena
O que posso esperar dos retalhos
Com os quais construo minha última colcha 
ou mortalha

Discorro sob seus olhos atentos
Que me guiam cuidadosamente
Em mim
Dentro e fundo
(está tão escuro!)

Ainda acredito em saídas
porque acredito em você
porque creio que você acredita em mim

 MDansa

imagem: Di Cavalcanti:  'Mulher no Divã', de 1932

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