sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ecdise (Kátia Fernandes)

Polegada a polegada,
Contorcendo sofregamente
Cada músculo da alma,
Empurro para fora
Meu novo eu,
Que é novo,
Mas sou eu
Desenterrada de mim.
Uma nova pele recobre-me
E a velha couraça,
Desgrudada,
Para a qual agora olho,
Dá-me orgulho
Por tê-la usado
Sem nunca a ter maquiado
Enquanto a tive.
Sou-lhe grata
E peço-lhe desculpas
Se por ventura
Abusei-lhe a resiliência;
Se levei-a além
De seu tempo de existência.
Mudar, a nós,
Seres humanos,
Não é como para as borboletas,
Que atendem os chamados das flores!
A nós, seres cientes,
Tempos de crise
São os tempos de catarse!
A nós, seres pensantes,
Foi dado o dom de manipular o tempo
Sonegamos a sorte
E adiamos o processo!
Muitos de nós
Nunca se entregaram a uma ecdise
E vivem a clausura
Do que não mais são!
Pois parto-me aos retalhos
E emirjo dos trapos
Em busca de minhas novas asas
Nem que sejam de mariposas!
Vou responder ao clamor das flores,
Mesmo que estas já estejam murchas...

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