
A vida é solo fértil
onde crescem grandes e atrevidos girassóis,
onde rastejam lagartos e galhos retorcidos,
onde se alimentam livres rouxinóis.
Onde pés descalços se infiltram como chuva
e chuvas cravam dentes como raízes
e raízes penetram e adubam ligeiras
rasas covas sementeiras...
Ali também gestação e decomposição
felizes co-habitam.
... Afinal tudo é parte do mesmo,
uno e infinito e contínuo, todo.
E não há lapsos não há tempos nem definições
Não há espaços
não há hiatos
não há éter
Há ali
...onde presumo vácuos e ausências...
um farfalhar de folhas
dança vegetal que parece apenas vento
mas é movimento que decide destinos
em slow motion
Ali não há permissão pra hesitações nem contradições
a vida ignora o nosso tempo.
II
Por outro ângulo, no mesmo ciclo, avisto a morte
reverência ritual de dor e luto
que anuncia em coro
renascimento e reencarnação
e vai desbravando vida
Vislumbro ... ainda ... um silêncio pulsante
espuma e onda se dobrando de joelhos
na areia porosa e permeável
enquanto fé medo quebranto sal e magia
invadem becos sem saída e feridas em carne viva
Há entre as pedras e entre os dentes
águas e palavras que escorrem turbulentas
e completam fossos e incertezas
e quase transbordam a alma
Nada, nada é como você imagina
nada do que você imagina é vazio
acredite nisso.... isso salva!
III.
Se algum dia, a vida parecer sem sentido
se o seu peito amanhecer desabitado e ermo
e você duvidar...
preste bastante atenção, aguce os sentidos
No nada está a voz mais profunda do universo
declamando em versos lições importantes
Nos silêncios que parecem tristes
está tudo aquilo que resgata e redime quando o peito chora
Nos silêncios que parecem desespero
está tudo aquilo que grita e persiste
quando as vozes estremecem e a vida quase desiste
É ali, somente ali,
em abismos profundos e silentes
em lapsos abandonados e desabitados da mente
quase insana
na mais completa e terrível solidão
que estão suas respostas
e a vida, finalmente, confessa todas as verdades.
02/04/2017
MDansa
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